Sônia Vidal di Maio, que atua como arquiteta do departamento de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, e Nadia Kojio, que trabalha como historiadora e coordenadora do Arquivo Público de São José dos Campos, foram designadas para cuidar do processo de restauração da igreja de São Benedito, localizada na praça Afonso Pena, no centro de São José dos Campos, interior de São Paulo. Ao olhar para uma parede, a arquiteta viu uma ossada e falou para a sua colega: “Não acredito! Não acredito no que estou vendo”. As informações são da Universa.
Após o susto, Sônia pegou o seu celular e iluminou a fresta da parede. Nesse momento, avistou um caixote com uma fita amarela. Ao saber do ocorrido, Vitor Chuster, na época diretor do departamento de Patrimônio Histórico, solicitou que Nadia descobrisse mais informações sobre o caso.
Então ela apurou que a ossada era do capitão Miguel de Araújo Ferraz. No século 19, ele concedeu as suas terras para a Irmandade de Nossa Senhora do Rósario, que construiu uma igreja com o mesmo nome da santa. Por isso, ele ganhou o direito de ser sepultado em solo santo, algo que era comum na época.
Com base nisso, Nadia conseguiu confirmar a história narrada de geração em geração pelos residentes de São José dos Campos.
“É o ‘seu’ capitão, Nadia! Ele está aí”, brincou Sônia. A historiadora informou que a ossada foi encontrada em uma das salas da capela, onde trabalhou por alguns anos. “Lá funcionou durante alguns anos o Patrimônio Histórico Cultural. Estalos são normais, afinal, é uma construção antiga. Mas nunca vi nada. Nem tenho medo de assombração”, disse ela.
Não há informação a respeito da data em que o capitão Miguel morreu. Um livro histórico de 1934, chamado “Albúm de São José”, relatou que o corpo foi encontrado pela primeira vez após a demolição da igreja de Nossa Senhora do Rosário, em 1879. “No fundo do corredor, ao lado da nave, estava a sepultura do sr. cap. Miguel de Araújo Ferraz […]. Com a demolição da igreja, tratou-se da remoção dos despojos, para o que foi aberto o túmulo, encontrando-se o corpo mumificado e tendo os cabelos em perfeito estado.”
Na primeira vez em que foi enterrado, o corpo passou por um processo para preservá-lo. Depois, ao ser levado para a igreja de São Benedito, onde foi sepultado em pé entre duas paredes, a “mumificação” perdeu o seu efeito. Atualmente, restam apenas os ossos e as roupas do capitão Miguel.
Para que o caso seja estudado pelo Núcleo de Arqueologia da cidade, a rachadura na parede foi provisoriamente tapada. “Não gostaríamos de removê-lo, mas trabalhar na melhor preservação do corpo e fazer uma leitura histórica”, disse o arqueólogo Wagner Bornal.
“Ninguém quer trabalhar com a ossada ou reconstituir o rosto. O que queremos é compreender o sepultamento, o processo produtivo do caixão, o emparedamento — e o lado simbólico disso tudo. São muitas possibilidades de aprendizado”, completou.
Mesmo assim, a igreja de São Benedito deve passar por mais um processo de restauração, mas ainda sem data definida.