Nova geração de superbactérias aumentam em hospitais brasileiros

Por: Olhar Digital com Folha de SP  Data: 18/07/2023 às 07:11

Uma nova geração de superbactérias foi revelada após estudo brasileiro financiado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) estadunidense. Pela primeira vez, o aumento de certa enzima ligada a nova geração de superbactérias (bactérias multirresistentes) acontece em hospitais do Brasil.

Nova geração de Superbactérias
Nova geração de Superbactérias – Imagem: Shutterstock

A enzima se chama metalobetalactamase New Dehli (NDM-1) e foi isolada pela primeira vez em 2009 na Índia. Dali em diante, a enzima provocou surtos por lá, além de Paquistão e Inglaterra. Aumentos de casos foram detectados no Japão, Austrália, Canadá e EUA.

A NDM no Brasil

  • Por aqui, a NDM foi detectada anteriormente, porém, jamais quantificada;
  • Segundo o estudo, a taxa de detecção da enzima em grupo de bactérias, chamadas enterobactérias, chegou a quase sextuplicar em sete anos: de 4,2% para 23,8% entre 2015 e 2022. Houve pico na pandemia de Covid-19;
  • A NDM se insere em grupo maior de enzimas produzidas por bactérias, chamadas de carbapenemases, grande ameaça à saúde pública por sua forte resistência aos antibióticos existentes;
  • Quem também está há tempos no imaginário brasileiro é a KPC, Klebsiella pneumoniae, causadora de vários surtos em hospitais brasileiros e do mundo.

Por que o aumento vem acontecendo?

O estudo indica que a hipótese mais provável para o aumento da nova geração de superbactérias é a somatória de superlotação de hospitais, falta de preparo dos profissionais da saúde e o uso descontrolado de antibióticos.

Os pesquisadores chegaram à conclusão que, entre 2020 e 2022, a detecção de enterobactérias subiu 65,2%, além de aumento de 61,3% de detecção da Pseudomonas aeruginosa.

Outros estudos indicaram a contaminação de até 94% de pessoas com Covid-19 por antimicrobianos em hospitais no período mais pesado da pandemia. Mas parte dessas detecções podem ter sido desnecessária, já que se tratavam de quadros virais e não bacterianos.

O problema da resistência desses animais a antibióticos mais novos, a exemplo os carbapenêmicos, é que já é anterior à pandemia, tendo sido registrado aumentos da resistência entre 2019 e 2020 na Europa, mesmo com redução do uso de antibióticos.

Estratégias contra a nova geração de superbactérias

Entre as estratégias que os médicos estão realizando para tentar mitigar a resistência bacteriana é retomar o uso de antibióticos mais antigos, como a polimixina. Eles são mais tóxicos, mas, ao menos, são mais eficazes no combate às bactérias mais resistentes. Porém, elas também têm sofrido.

A pesquisa foi publicada na revista Clinical Infectious Diseases e faz parte de projeto internacional para aprimoramento da detecção e conhecimento sobre a resistência das bactérias.

Nova geração de superbactérias aumentam em hospitais brasileiros
Nova geração de superbactérias aumentam em hospitais brasileiros

Os pesquisadores brasileiros testaram mais de 80 mil bactérias do banco de dados do sistema público de informações laboratoriais. Nos testes, indicou-se que a enzima KPC é a mais frequente, com taxa de detecção de 68,6% nas enterobactérias, com a NDM obtendo 14,4% de índice.

Contudo, é preocupante a taxa de crescimento da nova geração de superbactérias. Houve aumente percentual anual de 41,1% entre as enterobactérias e 71,6% quando considerada apenas a P. aeruginosa. Por sua vez, a KPC apresentou queda de 4% no primeiro grupo de bactérias e alta de 22% no segundo grupo.

A gente sabia que estava detectando mais NDM, mas não tinha quantificado isso. A gente sempre achou que a NDM era menos importante. Embora ela tenha sido encontrada em menor proporção no total de isolados, a taxa de crescimento dela é assustadora ao longo desses últimos anos. Aqui no Brasil não tem nenhum [antibiótico] comprovadamente eficaz para a NDM. O que gente faz é usar antibióticos antigos, alguns podem ou não ter efeito para essa resistência, mas a gente não pode garantir que funcione.Carlos Kiffer, autor principal do estudo e professor adjunto de infectologia da Unifesp

Kiffer alertou ainda que, caso a NDM seguir crescendo nesse nível, pode tomar conta dos hospitais em três ou quatro anos.