Lula: ‘Se tem uma profissão honesta é a do político, que tem concurso público a cada 4 anos’

Por: Terra  Data: 29/04/2023 às 08:24

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em cerimônia no Palácio do Planalto que sancionou o reajuste de 9% no salário dos servidores federais, que os políticos brasileiros, enquanto profissionais, são “honestos”.

Na avaliação de Lula, a “mania de desacreditar” a política levou à eleição do ex-presidente Jânio Quadros, que chegou ao cargo defendendo “varrer” a corrupção e acabou renunciando, e à ascensão de Jair Bolsonaro, a quem classificou de “genocida” e “golpista”.

“A sociedade tem essa mania de desacreditar na política”, declarou o presidente nesta sexta-feira, 28. “Essa antipolítica que levou Jânio Quadros ser eleito com a vassourinha e esse genocida golpista. Se tem uma profissão honesta é a do político.”

Segundo Lula, a política é a única profissão que tem “concurso” público a cada quatro anos, sendo necessária uma nova aprovação para que o parlamentar ou chefe de Executivo seja eleito. Mandatos anteriores do petista foram marcados por escândalos de corrupção. O próprio presidente foi condenado no âmbito da Lava Jato por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá e mantido preso de abril de 2018 a novembro de 2019. Em 2021, o STF anulou todas as condenações por questões processuais, sem analisar o mérito. A anulação indicava que o processo deveria ser julgado pela vara do Distrito Federal e não pela de Curitiba.

A Corte concluiu que o ex-juiz Sérgio Moro foi parcial, o que fez com que as provas colhidas durante esse período fossem vetadas em eventuais processos futuros. Empreiteiras como Novonor (ex-Odebrechet), Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e UTC buscam revisar acordos de leniência com a Lava Jato. Acertos de pagamento somaram R$ 8 bilhões, uma indicação de que as investigações mostraram desvios.

Protestos
Durante o discurso nesta sexta-feira, no qual se comprometeu a abrir novos concursos e promover melhorias na remuneração dos servidores, Lula admitiu não acreditar na possibilidade de fechar um acordo “unânime” entre governo e funcionalismo. E criticou a forma como são feitos protestos atualmente no País, com xingamentos e agressões. “É preciso aprender a conversar com deputados, senadores e com os governantes. Precisamos de diálogo”, afirmou.

Contraditório
Não é a primeira vez que Lula compara políticos, servidores públicos e honestidade. Ainda em 2016, uma declaração similar do ex-presidente em São Paulo gerou polêmica e alimentou fake news. “Eu de vez em quando falo que as pessoas achincalham muito a política, mas a profissão mais honesta é a do político, sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e tá com um emprego garantido para o resto da vida”, disse na ocasião, o que provocou protesto de concursados.

Apesar de criticar a desvalorização da política, o petista costuma ter uma leitura muito mais ácida dos outros partidos do que do próprio PT. No início do ano, em entrevista à CNN, ele desdenhou de todas as demais legendas, sem distinguir inclusive aquelas que fazem parte de seu atual governo. “Não existe partido político no Brasil. O único partido com cabeça, tronco e membro é o PT. O PT não é uma coisa qualquer, é um partido político. O restante é uma cooperativa de deputados que se juntam nas eleições”, disse o petista, reduzindo as demais siglas a “cooperativas de deputados”.

Como mostrou o Estadão, Lula e o PT mantêm uma versão própria dos fatos no que diz respeito a seus problemas envolvendo corrupção. Resolução aprovada pelo partido em fevereiro trata o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como “golpe” e chama de “quadrilha” a força-tarefa da Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, que se tornou ministro da Justiça no governo Bolsonaro e foi eleito senador pelo Paraná no último pleito.