No universo fitness e das dietas de emagrecimento, a “história” de que o metabolismo reduz drasticamente depois dos 40 anos é praticamente um mantra. Só que, na biologia, uma coisa ser compartilhada milhões de vezes não faz dela uma verdade universal, como apontam novos estudos. O que acontece é que o metabolismo permanece o mesmo nessa fase da vida e o ganho de massa tem outras possíveis explicações.
Basicamente, a taxa de funcionamento (“queima de calorias”) do metabolismo permanece o mesmo dos 20 aos 60 anos. É o que concluiu um estudo internacional, publicado na revista Science, após analisar o metabolismo de 6,4 mil pessoas, espalhadas por 29 países diferentes.
Como funciona o metabolismo humano aos 40 anos
De fato, segundo os autores do estudo, o metabolismo e o gasto energético basal não são constantes ao longo da vida de um indivíduo, já que passam “por transições em momentos críticos”. O ponto é que chegar até a meia-idade, passando dos 40 anos, não significa muito para o corpo em termos biológicos.
Segundo a equipe internacional de pesquisadores, é possível identificar quatro principais fases do metabolismo ao longo da vida:
- Metabolismo muito acelerado na primeira infância, entre o nascimento e o primeiro ano de vida;
- Declínio lento da taxa de metabolismo entre a infância até os 20 anos;
- Período de relativa estabilidade entre os 20 e 60 anos, mesmo durante a gravidez;
- Queda acentuada do metabolismo após os 60 anos.
O que justifica o ganho de peso entre os 40 e os 50 anos?
Conforme aponta a pesquisa, nada aparentemente significativo ocorre em relação à taxa metabólica durante a meia-idade. Apesar disso, é normal o ganho de peso nessa faixa etária. “O aumento da adiposidade, ou seja, o aumento da tendência a gerar depósitos de gordura, é um fenômeno típico da quinta década de vida que está muito bem documentado”, afirma Tom Sanders, do King’s College London, para o jornal El País.
Por enquanto, só é possível pensar em hipóteses — ideias que precisam ser explicadas cientificamente — que expliquem o motivo por trás do ganho de peso nesse momento da vida, sem envolver o metabolismo. Entre elas, está a questão comportamental, envolvendo o estilo de vida.
Para Sanders, é comum que as pessoas diminuam a prática de exercícios físicos e descuidem da alimentação, optando por alimentos mais calóricos. Além disso, a disposição não é mais a mesma para fazer regularmente exercícios aeróbicos intensos. Às vezes, a questão também pode ser a falta de tempo para se cuidar. Outra ideia ainda envolve fatores emocionais, como a infelicidade, baixa auto-estima ou redução da vaidade. Os hormônios podem desempenhar um papel nessa história também.
Ganhar peso não é necessariamente ruim
Aqui, é importante pontuar que está tudo bem ganhar peso e apresentar alterações no Índice de Massa Corporal (IMC) não deve ser encarado de forma negativa. O mais importante é entender onde a gordura se acumula no corpo. Neste ponto, é melhor acumulá-la sob a pele, mesmo que isso seja visível, como na região do abdômen, do que no pâncreas ou no fígado. Inclusive, este último caso é conhecido como esteatose hepática, um dos fatores de risco para o diabetes tipo 2.
Outro estudo científico, publicado na revista eLife, descobriu que “alguns indivíduos que vivem com obesidade podem ser relativamente saudáveis metabolicamente, enquanto outros sofrem de múltiplas condições que podem estar ligadas a efeitos metabólicos adversos ou outros fatores”. Os efeitos da composição corporal não são únicos.
Em termos gerais, o estudo reforça que a gordura por si só não é negativa, sendo mais importante entender onde ela está localizada e como a saúde geral da pessoa está. Outro ponto é que inúmeras questões genéticas individuais, não consideradas na maioria das pesquisas, também são importantes e, em certo ponto, incompreendidas.
Agora, pensando em termos de longevidade e qualidade de vida, a prática de exercícios físicos e de uma boa dieta devem ser estimuladas, sim, mas isso independe de números exibidos por uma balança ou gorduras que se acumulam no abdômen. Definitivamente, ser saudável não é sinônimo de ser magro.