Doença de Haff afeta 55% das pessoas que consomem peixe contaminado; veja sintomas

 Data: 16/11/2021 às 05:42

Cientistas acreditam que a enfermidade tem relação com toxina presente em algas que servem de alimento para os peixes

A Doença de Haff, conhecida popularmente como “doença da urina preta”, acomete 55% das pessoas que consomem peixes contaminados pela toxina que origina essa enfermidade. Essa foi a principal conclusão de um artigo publicado pela Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na revista Lancet, uma das mais renomadas no mundo científico. 

Para chegar a esta conclusão, o estudo analisou quantas pessoas das que consumiram o mesmo pescado tiveram os sintomas da doença. “Do ponto de vista da epidemiologia, buscamos entender quantas pessoas consumiram o mesmo peixe e desenvolveram a doença, com a identificação do aumento da enzima CPK. Poucos artigos trazem essa informação”, explica a epidemiologista Cristiane Cardoso, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Salvador, ligado à SMS. 

A alteração na enzima CPK (creatinofosfoquinase) é o principal sintoma da doença de Haff. Ela é uma proteína presente nos músculos e outros lugares do corpo, como cérebro, pulmão e coração. O nível considerado normal é em torno de 200 U/L. No estudo, os pacientes contaminados pela toxina do peixe tiveram taxas de 9 mil U/L e até 132 U/L. 

“A doença é caracterizada por uma mialgia e dor intensa, principalmente na área do pescoço, com o nível da CPK elevado. Quando ocorre a lesão, o rim elimina o metabólico muscular, que sai através da urina. Por isso que ela começa a mudar de cor, entre o marrom e o avermelhado, causando uma complicação renal. Alguns pacientes precisam se internar e fazer diálise”, explica a sanitarista Ana Paula Pitanga, diretora do Centro de Operações e Emergência em Saúde Pública (COE), ex-diretora do Cievs. 

Segundo Cristiane, essa dor nos músculos é aguda e intensa e começa a aparecer até 24 horas da ingestão do peixe. O tempo médio de aparecimento desse sintoma é de 5 horas e 30 minutos após a refeição. 

Toxina nos peixes
Outro pioneirismo do estudo publicado na Lancet foi a identificação da toxina no peixe. Ela foi observada em duas espécies: o olho de boi e o badejo. “Existem poucos artigos publicados sobre a Doença de Haff. No Brasil, não existem estudos que possam identificar essa toxina e a gente conseguiu, com esse trabalho em parceria, encontrar em duas amostras de peixe, que isolamos do surto de 2020”, revela a sanitarista Ana Paula Pitanga.

Além da SMS e Fiocruz, participaram do estudo a Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o Centro de Estudos do Mar, da Universidade Federal do Paraná e o Instituto Federal de Santa Catarina. 

A suspeita é de que a toxina esteja em algas marinhas ingeridas pelos peixes e que são passadas para os humanos através da alimentação. “Os peixes, ao consumirem as algas, acumulam a toxina na cadeia trófica. Como ela é termoestável, ou seja, mesmo ao fritar e cozinhar o peixe, ela não se decompõe, e contamina os humanos pela ingestão”, esclarece Cristiane Cardoso.