Toda a população adulta da cidade de Serrana, perto de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, será vacinada contra a covid-19 a partir da semana que vem.
Os 30 mil voluntários acima de 18 anos – entre os 45.644 moradores do município – vão participar de uma pesquisa do Instituto Butantan para saber se a vacinação em massa pode de fato diminuir a transmissão do vírus, controlando assim a infecção.
O Projeto S, como é chamado, foi lançado nesta sexta, 12, pelo Butantan e a prefeitura da cidade, para ver qual é a capacidade da Coronavac em modificar o curso da epidemia.
O ensaio clínico com a população adulta será feito com a vacina produzida pelo laboratório Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
A vacinação
A imunização começa no dia 17 de fevereiro e a população poderá se cadastrar até o dia 16.
Para facilitar a vacinação em massa, a cidade foi divida em quatro regiões, separadas por cores. A vacinação será feita de quarta-feira a domingo de acordo com o cronograma de cada cor.
Para a primeira dose, serão imunizados os moradores da Região Verde (17 a 20 de fevereiro); em seguida serão os residentes da Região Amarela (24 a 27 de fevereiro), da Região Cinza (3 a 6 de março) e da Região Azul (10 a 13 de março).
Os postos de vacinação serão montados em oito escolas, de acordo com as áreas determinadas para o estudo para a aplicação das doses.
A estimativa é a de que em 13 semanas já será possível obter as respostas necessárias para conhecer os efeitos da imunização em massa.
A escolha
A cidade de Serrana foi escolhida para participar do projeto por ter apresentado dados preocupantes de transmissão do novo coronavírus em um inquérito sorológico realizado pelo Instituto Butantan em 2020. E também por outros motivos:
“É uma cidade relativamente pequena, tinha uma grande porcentagem de caso ativos (5%, de acordo com inquérito sorológico feito em abril do ano passado) e tem mais de 10 mil moradores que viajam todos os dias, circulação que propicia a proliferação de doenças infectocontagiosas”, disse diretor-geral do Hospital Estadual Serrana, Marcos Borges.
A expectativa
O diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, falou da expectativa: “Se a vacinação controlar o vírus, levar à diminuição da existência do próprio vírus na comunidade é um tipo de resposta. Se o vírus vai continuar circulando, embora haja proteção contra a doença, é outro tipo de resposta que vai exigir novo tipo de planejamento”, explicou.
Dimas Covas disse que as variantes do novo coronavírus são uma preocupação das autoridades médicas e especialmente a variante brasileira que surgiu no Amazonas, que pode trazer problemas para algumas vacinas baseadas na proteína S (AstraZeneca , Sputnik V, Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson).
“A vacina do Butantan é diferente porque é baseada no vírus inteiro inativado, quebrado aos pedaços e são esses pedaços que formam a vacina. Quando o indivíduo recebe, ele produz uma resposta imunológica ampla contra vários pedaços do vírus. Portanto, a chances dessa vacina ter problemas com essas variantes é menor. Já estamos fazendo o monitoramento dessas variantes”, explicou.
O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Butantan, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e é realizado em parceria com a Secretaria de Saúde e a Prefeitura Municipal de Serrana. O estudo está registrado na base de dados internacional ClinicalTrials.gov.
A participação é voluntária e os dados dos cidadãos que tomarem a vacina são sigilosos.
Um assistente virtual pelo WhatsApp vai tirar dúvidas da população e ajudar a monitorar efeitos da vacinação
“A Tainá, nossa assistente virtual, vai ser fundamental para a divulgação do Projeto S e o acompanhamento da população de Serrana após a vacinação”, concluiu Dimas Covas, diretor-presidente do Instituto Butantan.