Chá verde faz bem por causa do efeito oxidante, e não antioxidante

Por: Diário da Saúde  Data: 11/01/2022 às 10:30

A imprensa não especializada e o público em geral não têm acompanhado a evolução da ciência dos antioxidantes – já há cientistas falando em mito dos antioxidantes.

Uma nova pesquisa desbancou a teoria aceita hoje pela ciência sobre como os ingredientes do chá verde funcionam para promover a saúde.

O chá verde é conhecido por ter benefícios físicos e cognitivos para a saúde. Esses benefícios têm sido atribuídos principalmente a dois de seus ingredientes, catequinas chamadas ECG (epigalocatequina) e EGCG (epigalocatequina galato), que prolongam a vida.

Essas duas substâncias pertencem ao grupo dos polifenóis, considerados antioxidantes, o que significa que eles neutralizam ou previnem o estresse oxidativo no corpo causado pelos radicais livres de oxigênio.

Hoje, os cientistas acreditam que as catequinas neutralizam esses radicais livres e, assim, evitam danos às células ou ao DNA. Uma fonte de radicais livres de oxigênio é o metabolismo, por exemplo, quando as mitocôndrias – as usinas de força das células – estão trabalhando para produzir energia.

Oxidante que faz bem

Agora, contudo, pesquisadores comprovaram que esses polifenóis do chá verde aumentam o estresse oxidativo no curto prazo, e isso tem o efeito subsequente de aumentar as capacidades defensivas das células e do organismo.

Como resultado, as cobaias alimentadas com as catequinas do chá verde tiveram uma vida mais longa e melhor preparo físico.

“Isso significa que os polifenóis do chá verde, ou catequinas, não são de fato antioxidantes, mas sim pró-oxidantes, que melhoram a capacidade do organismo de se defender, semelhante a uma vacinação,” disse o professor Michael Ristow, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), na Suíça.

No entanto, esse aumento na capacidade defensiva se manifesta não por meio do sistema imunológico, como ocorre nas vacinas, mas pela ativação de genes que produzem certas enzimas, como a superóxido dismutase (SOD) e a catalase (CTL). São essas enzimas que inativam os radicais livres – elas são antioxidantes essencialmente endógenos, ou seja, produzidos pelo próprio organismo.

Estresse oxidativo para o bem

O professor Ristow afirma que não se surpreendeu totalmente ao ver esse tipo de mecanismo em funcionamento. Seu grupo de pesquisa mostrou, já em 2009, que a razão pela qual o esporte promove a saúde é porque as atividades esportivas aumentam o estresse oxidativo no curto prazo, melhorando assim as defesas do corpo.

Consumir menos calorias tem o mesmo efeito, como foi demonstrado várias vezes em animais. Camundongos alimentados com uma dieta hipocalórica vivem mais do que aqueles alimentados com uma dieta normal de alto teor calórico. “Portanto, fazia sentido para mim que as catequinas no chá verde funcionassem de maneira semelhante,” explica Ristow.

Ele prossegue, dizendo que as descobertas deste estudo se traduzem bem para os humanos. Os processos bioquímicos básicos pelos quais os organismos neutralizam os radicais livres de oxigênio são conservados na história evolutiva e estão presentes em tudo, desde leveduras unicelulares até humanos.

Continue tomando chá verde, não concentrados

Mas não é porque os compostos do chá verde são oxidantes, e não antioxidantes, que se deve parar de tomá-los. Na verdade, o que será necessário será um longo trabalho de divulgação das pesquisas mais recentes, que vêm há vários anos mostrando que a ciência dos radicais livres e dos antioxidantes é muito mais complexa do que é diariamente passado pela mídia.

O próprio professor Ristow afirma que bebe chá verde todos os dias, uma prática que ele recomenda. Mas ele desaconselha a ingestão de extratos ou concentrados de chá verde: “Em certa concentração, ele se torna tóxico,” afirmou. As catequinas em altas doses inibem as mitocôndrias a tal ponto que ocorre a morte celular, o que pode ser particularmente perigoso no fígado. Qualquer pessoa que consuma esses polifenóis em doses excessivas corre o risco de danificar seus órgãos.

Embora a maioria das catequinas seja encontrada nas variedades japonesas de chá verde, outros chás verdes também contêm quantidades suficientes desses polifenóis. O chá preto, por outro lado, contém um nível muito mais baixo de catequinas, uma vez que estas são amplamente destruídas pelo processo de fermentação.

“É por isso que o chá verde é preferível ao chá preto,” disse Ristow.