Casos misteriosos de hepatite em crianças, veja o que se sabe até agora

Por: Agências  Data: 30/04/2022 às 07:39

Casos misteriosos de hepatite em crianças foram relatados em diversos países, despertando chamado a atenção das autoridades de saúde. Até este mês de abril, houve quase 200 casos, 17 transplantes de fígado e uma morte, o suficiente para mobilizar até mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que chegou a fazer um alerta geral. O Canaltech reúne tudo o que se sabe até agora sobre esse mistério.

Quais países registraram hepatite em crianças?
No relatório da OMS, publicado no último dia 23, já se tinha conhecimento de pelo menos 169 casos de hepatite aguda de origem desconhecida, distribuídos por 11 países da Europa e um americano. Segue a relação de países e quantidade de ocorrências até então:

  • Reino Unido (114)
  • Espanha (13)
  • Israel (12)
  • Estados Unidos (9)
  • Dinamarca (6)
  • Irlanda (5)
  • Holanda (4)
  • Itália (4)
  • Noruega (2)
  • França (2)
  • Romênia (1)
  • Bélgica (1)

Causa e sintomas do surto de hepatite infantil
Os casos relatados pela OMS atingem crianças de um mês a 16 anos de idade, mas a maioria dos pacientes tem menos de 5 anos. O mais misterioso de tudo é que esse público não apresenta resultado positivo para os vírus típicos da hepatite (A, B, C, D ou E), mas ainda assim dispõe de um quadro de hepatite aguda, ou seja: inflamação do fígado. Os sintomas mais comuns foram:

  • Dor abdominal
  • Diarreia
  • Vômito
  • Náusea
  • Perda de apetite
  • Icterícia (pele amarelada)

Acontece que a hepatite se refere simplesmente à inflamação do fígado em geral e pode ter centenas de causas: outros vírus, medicamentos, toxinas e até alimentos contaminados. A causa desse surto específico ainda não ficou clara para a medicina, mas alguns especialistas já suspeitam que o que está por trás disso tudo é um adenovírus.

O que é adenovírus?
Os adenovírus humanos (HAdV) são os vírus que causam sintomas do resfriado. Durante a investigação desse misterioso surto, 77% dos casos testaram positivo para alguma forma de adenovírus. Uma das teorias é que o adenovírus possa ter sofrido uma série de mutações, o que provocou maior capacidade em gerar inflamações no fígado.

Segundo a OMS, o Reino Unido — onde a maioria dos casos foi relatada até o momento — observou recentemente um aumento significativo nas infecções por adenovírus na comunidade (particularmente detectada em amostras fecais em crianças) após baixos níveis de circulação no início da pandemia de COVID-19. A Holanda também relatou um aumento simultâneo da presença de adenovírus na comunidade.

“No entanto, devido a testes laboratoriais aprimorados para adenovírus, isso pode representar a identificação de um resultado raro existente ocorrendo em níveis não detectados anteriormente e que agora está sendo reconhecido devido ao aumento dos testes”, pondera a OMS.

Embora o adenovírus seja atualmente uma hipótese, não explica totalmente a gravidade do quadro clínico. Os adenovírus são patógenos comuns que geralmente causam infecções autolimitadas, e se espalham de pessoa para pessoa e mais comumente causam doenças respiratórias, mas dependendo do tipo, também podem causar outras doenças, como gastroenterite (inflamação do estômago ou intestinos), conjuntivite e cistite (infecção da bexiga).

Existem mais de 50 tipos de adenovírus imunologicamente distintos que podem causar infecções em humanos. O adenovírus tipo 41 geralmente se apresenta como diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas respiratórios.

O que está sendo feito?
A OMS está monitorando de perto a situação e trabalhando com as autoridades de saúde de alguns países, e ressalta a necessidade de tempo para identificar casos adicionais, tanto nos países atualmente afetados quanto em outros lugares. “A prioridade é determinar a causa desses casos para refinar ainda mais as ações de controle e prevenção. Medidas comuns de prevenção para adenovírus e outras infecções comuns envolvem lavagem regular das mãos e higiene respiratória”, a OMS orienta.

Por enquanto, frente a esses casos misteriosos de hepatite em crianças, o órgão recomenda que sejam realizados testes de sangue, soro, urina, fezes e amostras respiratórias, bem como amostras de biópsia hepática, com sequenciamento. “Outras causas infecciosas e não infecciosas precisam ser minuciosamente investigadas”, aponta.