Um pesquisador brasileiro, atualmente trabalhando na Suíça, inventou um dispositivo médico que permite recuperar a função eréctil em homens com lesão da medula espinhal ou após câncer da próstata.
A solução tecnológica, rapidamente apelidada de “viagra eletrônico”, poderá chegar ao mercado em 2022, de acordo com a equipe da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).
Quando o Viagra chegou às farmácias, em 1998, construiu-se no imaginário coletivo a ideia de que a disfunção erétil seria um problema resolvido. Bastava tomar o comprimido azul, esperar uma hora e depois tudo funcionaria na perfeição.
“Só que cerca 30% dos homens com problemas de ereção não respondem ao tratamento oral. Foi pensando nesse grupo que desenvolvemos este dispositivo médico,” explica o pesquisador brasileiro Rodrigo Fraga da Silva, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e há oito anos trabalhando na EPFL, juntamente com sua esposa Fabiana Pereira da Costa Fraga.
Ereção estimulada eletricamente
Como um composto químico não funciona para os pacientes com interrupção neural, Rodrigo teve a ideia de induzir a ereção usando pulsos elétricos artificiais.
Quando ocorre uma lesão nos nervos – seja por acidente, seja em consequência da prostatectomia -, cria-se uma descontinuidade nas vias de comunicação elétrica entre o corpo e o cérebro e, por isso, a mensagem deixa de ser transmitida. É precisamente esta interrupção no fluxo de informação que leva à perda de funções no corpo humano.
A solução consiste em implantar na zona pélvica um dispositivo capaz de estimular com precisão os nervos que provocam a ereção. Após a cirurgia, a equipe clínica define os parâmetros certos de estimulação para que, depois, o utilizador possa gerir a sua atividade sexual usando apenas um controle remoto.
Viagra eletrônico
O “viagra eletrônico” na verdade chama-se Carver-STIM. Ele é composto por quatro partes: um par de placas com eletrodos, um gerador elétrico, um carregador externo sem fios e um controle remoto.
As placas contêm ao todo 24 elétrodos e são flexíveis, para acomodarem-se na base da pélvis, onde ficam implantadas após a cirurgia. “Muita gente pensa que o implante fica no pênis, o que uma é ideia errada e que gera medo nos pacientes,” esclareceu Rodrigo Fraga.
O par de placas fica conectado a um gerador sem fios, também alojado debaixo da pele, na zona do abdôme, que fornece estimulação elétrica.
Este gerador é programado previamente pelo médico através de um aplicativo clínico que permite identificar e ativar os eletrodos apropriados. Os eletrodos selecionados ativarão os nervos certos para provocar o endurecimento do pênis. A ordem de ativação é dada por radiofrequência através do controle remoto.
Já em casa, o paciente poderá utilizar o controle remoto para não só ligar e desligar o sistema de estimulação, como também ajustar a amplitude ou selecionar sequências de estimulação predefinidas. O gerador não é alimentado a pilhas: trata-se de um estimulador de titânio que pode ser recarregado uma vez por mês com a ajuda de um carregador externo sem fios.
Ensaios clínicos e comercialização
Rodrigo já fundou uma empresa, chamada Comphya, para levar o aparelho ao mercado.
Os conceitos científicos e tecnológicos em que se baseia o produto já foram testados com sucesso no ano passado com 24 pacientes submetidos à prostatectomia. Os ensaios clínicos estão previstos para agosto de 2020 com 20 indivíduos nos Estados Unidos e na Suíça (dez pacientes que realizaram prostatectomia e dez paraplégicos). Esse ensaio inicial terá que ser expandido para obtenção da licença para fabricar e comercializar o aparelho. Rodrigo estima que o dispositivo médico poderá chegar ao mercado em 2022.