Vírus da dengue e zika tornam infectados mais atraentes para pernilongos

Por: Diário da Saúde  Data: 01/07/2022 às 07:57

Os vírus da zika e da dengue alteram o cheiro das pessoas e animais que infectam. O cheiro alterado atrai mais pernilongos, que picam o hospedeiro, bebem seu sangue infectado e então carregam o vírus para sua próxima vítima.

Esses vírus requerem infecções contínuas e simultâneas em hospedeiros animais e nos pernilongos para se espalhar. Se um deles estiver ausente – se todos os hospedeiros suscetíveis eliminarem o vírus ou todos os mosquitos morrerem – o vírus desaparece.

Para aumentar suas próprias chances e evitar a extinção, os vírus zika e dengue parecem ter desenvolvido uma maneira sorrateira de lutar contra essa possibilidade.

Os cientistas suspeitaram que os dois vírus pudessem estar manipulando os hospedeiros de alguma forma para atrair pernilongos porque tanto a malária quanto a inflamação em geral podem mudar o cheiro das pessoas.

E, de fato, quando os pernilongos podiam escolher entre camundongos saudáveis ou camundongos doentes com dengue ou zika, os pernilongos foram mais atraídos pelos animais infectados.

Acetofenona
Confirmado o efeito, a equipe partiu para analisar as moléculas odoríferas na pele dos camundongos infectados e saudáveis. Eles identificaram várias moléculas que eram mais comuns nos animais infectados e as testaram individualmente.

Depois de testes tanto em camundongos “limpos” quanto nas mãos de voluntários humanos, a equipe descobriu que uma molécula odorífera específica, a acetofenona, é especialmente atraente para os pernilongos.

Os odorantes cutâneos coletados de pacientes humanos com dengue mostraram a mesma coisa: Eles são mais atrativos para os pernilongos e induzem mais produção de acetofenona.

A acetofenona é produzida por algumas bactérias Bacillus que crescem na pele humana (e de camundongos). Normalmente, a pele produz um peptídeo antimicrobiano que mantém as populações de Bacillus sob controle. Mas acontece que, quando os camundongos são infectados com dengue e zika, eles não produzem tanto o peptídeo antimicrobiano, e o Bacillus cresce mais rapidamente.

“O vírus pode manipular o microbioma da pele dos hospedeiros para atrair mais pernilongos para se espalharem mais rapidamente!” disse o professor Penghua Wang, da Universidade de Connecticut (EUA), que fez a descoberta em conjunto com colegas da Universidade Tsinghua (China).

Vitamina A contra pernilongos
A equipe também testou um potencial preventivo contra a manipulação que os vírus fazem no cheiro da nossa pele.

Eles deram aos camundongos com dengue um tipo de derivado da vitamina A, a isotretinoína, conhecida por aumentar a produção do peptídeo antimicrobiano da pele. Os camundongos tratados com isotretinoína emitiram menos acetofenona, reduzindo sua atratividade para os pernilongos e potencialmente reduzindo o risco de passar adiante a infecção com o vírus.

O professor Wang afirma que o próximo passo será analisar mais pacientes humanos com dengue e zika para ver se a conexão odor da pele-microbioma é geralmente verdadeira em condições do mundo real, e para ver se a isotretinoína reduz a produção de acetofenona em humanos e animais doentes.