O avanço da Selic pelo Banco Central, para conter a inflação no Brasil, atinge diretamente os financiamentos e compras de veículos. Além de carros mais caros, ainda há o risco da inadimplência, que também impacta numa aprovação mais rígida na liberação de crédito pelos bancos.
O mercado não pretende repetir o ambiente de 60 meses sem entrada. No primeiro semestre de 2022, o cenário provocou queda de 14,5% nas vendas de veículos no país. O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), José Mauricio Andreta Júnior, minimiza os efeitos econômicos e atribuiu a queda de 14,5% nas vendas no semestre mais à falta de modelos nas lojas do que às perdas de confiança e possibilidade real de compra dos consumidores.
“Nós temos hoje entre concessionárias e montadoras, praticamente 500 mil pedidos em carteira para entregar, então eu acredito, e historicamente o segundo semestre é sempre melhor que o primeiro. E nós pretendemos, dentro dessa projeção que nós estamos dando hoje de zerar e fazer o mesmo número esse ano de emplacamentos de veículos comerciais, caminhões, todos, igual a 2021”, comenta Andreta Junior.
A expectativa da Fenebrave pela repetição das vendas de 2021 em 2022 faria o mercado atingir o 2.200.000 unidades. O setor automotivo brasileiro tem capacidade de produção na casa de 5 milhões de unidade e registrou seu recorde em 2013, com 3.700.000.
O perfil do consumidor mudou, avaliar o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio Lima. “A restrição ao crédito leva a uma mudança do perfil do consumidor, porque aquele que dependia das vendas do financiamento acaba não tendo condições de fazê-lo, vai para o usado, o velhinho, e a gente não percebe, isso não vai na conta final da estatística, porque há limitação da produção por questão de insumos, ela acaba colocando numa diminuição natural”, diz.
Após a queda de 5% no primeiro semestre, a Anfavea reduziu de 9,4% para 4,1% a estimativa para o crescimento da produção em 2022, de 2.460.000 para 2.340.000 carros comerciais leves, caminhões e ônibus. O setor ainda enfrenta o desabastecimento de peças, que paralisa as fábricas, 20 foram atingidas e há uma perda estimada de fabricação na casa de 170 mil veículos.