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Valeixo afirma que Bolsonaro nunca pediu informações de inquéritos

Reprodução
O ex-diretor da PF disse que não foi solicitada nenhuma informação por parte da Presidência da República sobre investigações ou inqueritos em tramitação na Superintendência do Rio de Janeiro.

Mauricío Valeixo, ex-diretor da Polícia Federal, depôs hoje por mais de seis horas na sede da PF em Curitiba. Peça central na guerra de versões entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, ele afirmou que o presidente nunca solicitou informações de inquéritos.

No depoimento, Valeixo disse que desde o ano passado teria comunicado por diversas vezes o então ministro da Justiça seu desejo de deixar o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. 

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Valeixo afirmou que desde agosto de 2019 passou a acompanhar Moro em audiências semanais com o presidente da República, em que normalmente tratavam de “ameaças contra o presidente das redes sociais e outros assuntos relacionados ao Ministério da Justiça”.

No depoimento Valeixo também comentou sobre questionamentos ou pedidos de Bolsonaro sobre o inquérito das fake news, a morte do miliciano Adriano Nóbrega, as investigações sobre as declarações de um porteiro do condomínio do presidente no caso Marielle, e eventuais obstruções no curso do assassinato da vereadora.

Ainda em seu depoimento, Valeixo foi questionado sobre acesso a relatórios de inteligência. Os investigadores o questionaram se em agosto de 2019 havia alguma investigação de interesse do presidente da República ou de seus familiares em curso na Superintendência do Rio de Janeiro.

Valeixo disse que “desconhece” e que não foi solicitada nenhuma informação por parte da Presidência da República sobre investigações ou inqueritos em tramitação na Superintendência do Rio de Janeiro”.

Valeixo disse ainda que “se sentia desgastado no cargo no final do segundo semestre de 2019” e que entendia que “o melhor para a Polícia Federal seria sua substituição” e que o então diretor-geral da PF entendia que “havia encerrado seu ciclo no comando da PF”. 

No depoimento prestado por Moro à PF em 2 de maio, o ex-ministro citou que Bolsonaro disse a ele: ‘você tem 27 Superintendências, eu só quero uma, a do Rio de Janeiro’. Os investigadores questionaram Valeixo se Moro mostrou a ele a mensagem com esse conteúdo e se ambos discutiram o assunto em uma viagem para os Estados Unidos, retomando o que já tinha sido dito por Moro.

Valeixo respondeu que não viu a mensagem citada por Moro, da qual apenas tomou conhecimento quando foi revelado o teor do depoimento do ex-juiz. No entanto, Valeixo disse que, em março deste ano, quando se encontrava na embaixada do Brasil em Washington, o ex-ministro Moro pediu a Valeixo para conversarem de forma reservada. Naquele momento, Sergio Moro transmitiu a ele o desejo do presidente da República em mudar o superintendente do Rio de Janeiro novamente. 

Exoneração “a pedido”

O ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo disse que o presidente Jair Bolsonaro lhe telefonou, na noite de 23 de abril, para informar a exoneração do delegado e indagar se poderia colocar no “Diário Oficial da União” que o ato foi “a pedido”, embora Valeixo não tivesse encaminhado um processo de exoneração.

Valeixo disse que concordou com Bolsonaro sobre a expressão “a pedido”. O ato saiu publicado na madrugada do dia 24 e foi a última etapa de um tenso processo que cercava sua permanência no cargo desde agosto de 2019, quando o então ministro da Justiça Sérgio Moro informou as pressões de Bolsonaro para que Valeixo substituísse o superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi. O telefonema de Bolsonaro ocorreu, disse Valeixo, em “um cenário envolvendo sua exoneração que se arrastava há cerca de nove meses”.

Valeixo contou que na tarde daquele dia, 23, o ex-ministro Sérgio Moro também lhe havia perguntado se ele concordava com a publicação de uma exoneração “a pedido”, pois estava sendo articulada, na direção-geral no lugar de Valeixo, a posse do número dois do órgão, o delegado Disney Rosseti. Valeixo então teria dito que aceitaria o termo “a pedido” e que “faria uma solicitação formal ao ex-ministro de exoneração ‘a pedido'”, mas isso não chegou a ocorrer até a ligação de Bolsonaro.

Já tarde da noite do dia 23, Valeixo recebeu uma nova ligação telefônica, agora de Sérgio Moro. O então ministro lhe informou que ele, Valeixo, seria exonerado no dia seguinte, “sem mencionar de que forma ela se seria, se a pedido ou não, ou se o dr. Roseti seria o seu substituto”. Só no dia seguinte, 24, Valeixo reportou a Moro a conversa que havia tido com Bolsonaro.

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