A superdosagem (overdose) de suplementos de vitamina D não só é possível, como é fortemente prejudicial, alertam os médicos, que descreveram detalhadamente o caso de um homem que precisou de internação hospitalar por sua ingestão excessiva de suplementos de vitamina D.
A “hipervitaminose D”, como a condição é conhecida, está em ascensão e está ligada a uma ampla gama de problemas de saúde potencialmente graves.
O caso específico, descrito em detalhes pela equipe, diz respeito a um homem de meia-idade que foi encaminhado ao hospital pelo seu médico de família após queixar-se de vômitos recorrentes, náuseas, dor abdominal, cãibras nas pernas, zumbido no ouvido, boca seca, aumento da sede, diarreia e perda indesejada de peso (12,7 kg).
Esses sintomas estavam acontecendo há quase 3 meses e começaram cerca de 1 mês depois que o paciente iniciou um regime intensivo de suplementos vitamínicos sob o conselho de um terapeuta nutricional devido a uma série de problemas prévios de saúde, incluindo tuberculose e sinusite crônica.
Ele estava tomando altas doses de suplementos vitamínicos: 50.000 mg de vitamina D – a necessidade diária é de 600 mg ou 400 UI; 100 mg de vitamina K2 (necessidade diária 100 – 300 µg); 1000 mg de vitamina C e vitamina B9 (necessidade diária 400 µg); 2000 mg duas vezes ao dia de vitamina B2 (riboflavina), vitamina B6 e ômega-3 (necessidade diária de 200 – 500 mg), além de vários outros suplementos vitamínicos, minerais, nutrientes e probióticos.
Uma vez que os sintomas se desenvolveram, ele parou de tomar seu coquetel diário de suplementos, mas seus sintomas não desapareceram.
Exames
Os resultados dos exames de sangue solicitados por seu médico de família revelaram que o paciente tinha níveis muito elevados de cálcio e níveis ligeiramente elevados de magnésio. E seu nível de vitamina D estava 7 vezes acima do nível necessário.
Os testes também indicaram que os rins não estavam funcionando corretamente (lesão renal aguda). Os resultados de vários raios X e exames para verificar se havia câncer deram resultados negativos.
O homem ficou no hospital por 8 dias, durante os quais recebeu fluidos intravenosos, para limpar seu organismo, e foi tratado com bisfosfonatos – drogas que normalmente são usadas para fortalecer os ossos ou reduzir os níveis excessivos de cálcio no sangue.
Dois meses após a alta hospitalar, o nível de cálcio voltou ao normal, mas o nível de vitamina D permanecia anormalmente alto.
Níveis recomendados de vitamina D
Os níveis recomendados de vitamina D podem ser obtidos a partir da dieta (por exemplo, cogumelos selvagens, peixes oleosos) e da exposição à luz solar. Já sobre os suplementos, não há um consenso entre médicos e cientistas – veja A confusa ciência envolvendo os suplementos de vitamina D.
“Dada a sua lenta renovação (meia-vida de aproximadamente 2 meses), durante a qual a toxicidade da vitamina D se desenvolve, os sintomas podem durar várias semanas,” alertam os autores.
Embora o artigo científico tenha-se concentrado na descrição detalhada de um caso específico, a hipervitaminose D está aumentando, com várias fatores para isso emergindo durante a pandemia de covid-19.
“Globalmente, há uma tendência crescente de hipervitaminose D, uma condição clínica caracterizada por níveis séricos elevados de vitamina D3, com mulheres, crianças e pacientes cirúrgicos mais propensos a serem afetados,” escreveram os autores do estudo de caso.
Sintomas da overdose de vitamina D
Os sintomas da hipervitaminose D são muitos e variados, e são causados principalmente pelo excesso de cálcio no sangue. Eles incluem sonolência, confusão, apatia, psicose, depressão, estupor, coma, anorexia, dor abdominal, vômitos, constipação, úlceras pépticas, pancreatite, pressão alta, ritmo cardíaco anormal e anormalidades renais, incluindo insuficiência renal.
Outras características associadas, como ceratopatia (doença inflamatória ocular), rigidez articular (artralgia) e perda auditiva ou surdez, também já foram relatadas.
“Este relato de caso destaca ainda mais a toxicidade potencial de suplementos que são amplamente considerados seguros até serem tomados em quantidades inseguras ou em combinações inseguras,” concluíram os pesquisadores.