Ícone do site AlagoasWeb

Se depender apenas do cérebro, mulheres podem consumir mais álcool que homens

Twenty20photos/Envato Elements

Homens e mulheres podem apresentar diferentes níveis de vulnerabilidade para transtornos associados ao uso de álcool — e isso têm uma explicação biológica, de acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos. Nos experimentos pré-clínicos, os cientistas analisaram a relação de roedores, de diferentes sexos, com a ingestão de bebidas alcoólicas. Tal efeito pode ser similar em humanos, caso estudos futuros confirmem essa ideia.

Publicado na revista científica na Nature Communications, o estudo — feito por cientistas da Weill Cornell Medicine, nos EUA —  examinou uma região específica do cérebro dos roedores, o núcleo da estria terminal (BNST). Esta é uma estrutura associada à resposta ao estresse e, em humanos, sua atividade está conectada à compulsão alimentar e também ao consumo excessivo de álcool. 

Publicidade

Entenda o estudo

De acordo com os autores, uma parcela significativa dos neurônios do BNST é mais excitável em fêmeas do que em machos. Em partes, isso pode explicar uma maior suscetibilidade das roedoras ao consumo excessivo de álcool. Por outro lado, o mesmo estudo observou que um outro grupo de neurônios, o núcleo paraventricular do tálamo (PVT), atua como um freio na atividade do BNST e, curiosamente, tem uma influência mais forte no BNST feminino em comparação com o BNST masculino de roedores.

Em outras palavras, é como se o PVT pudesse conter o consumo excessivo de álcool através desse freio nas fêmeas, mas não em machos. Só que, por mais que as roedoras possam receber mais proteção com esse mecanismo, elas também podem ser mais vulneráveis quando esse freio é interrompido, o que pode acontecer com o surgimento de determinadas doenças.

“Este estudo destaca que existem diferenças sexuais na biologia do cérebro que controla os comportamentos de consumo de álcool, e realmente precisamos entender essas diferenças se quisermos desenvolver tratamentos ideais para o transtorno de ingestão de álcool”, explicou a principal autora do estudo e professora da Weill Cornell Medicine, Kristen Pleil.

Vale para os humanos?

Na sociedade humana, as mulheres tendem a consumir menos álcool do que os homens. No entanto, é necessário analisar esse comportamento, a partir de fatores culturais, como a opressão feminina. Inclusive, nas últimas décadas, a diferença de gênero diminuiu significativamente, especialmente entre as mulheres mais jovens, este consumo. 

“As fêmeas em todas as espécies de mamíferos, em comparação com os machos, exibem maior consumo excessivo de álcool e progridem do primeiro uso de álcool para estados de doença mais rapidamente”, comenta a pesquisadora Pleil. “Mas quase não houve pesquisa sobre os detalhes neurais que estão por trás dessa diferença de sexo”, complementa.

Neste cenário, as diferenças de sexo descobertas no circuito PVT-BNST podem ter uma relevância maior do que o consumo de álcool. Segundo os autores, este mecanismo também têm relação com transtornos de ansiedade — que, novamente, são mais comuns em mulheres.

Agora, novos estudos devem avaliar alternativas de controle desse mecanismo, inicialmente, em roedores. No futuro, é provável que terapias, baseadas nestes dois grupos de neurônios, estejam disponíveis para o uso humano.

Sair da versão mobile