Proposta Ă© assinada por 32 deputados
Tramita na CĂąmara dos Deputados um projeto de lei que equipara o aborto apĂłs a 22ÂȘ semana de gestação ao crime de homicĂdio. De autoria do deputado SĂłstenes Cavalcante (PL-RJ), o projeto prevĂȘ que a pena para a mulher que fizer o procedimento, atĂ© entĂŁo protegido por lei, seja mais dura que a prevista para o estuprador.
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Projeto de lei prevĂȘ que mulher estuprada que realizar aborto pode ter pena maior que estuprador
Se for aprovada, o aborto seria igualado ao homicĂdio simples, do artigo 121 do CĂłdigo Penal, cuja punição varia entre seis a 20 anos de prisĂŁo. No caso de estupro (artigo 213), a pena mĂnima Ă© de seis anos quando a vĂtima Ă© adulta, mas pode chegar atĂ© 10 anos. Se a vĂtima for menor de idade, sobe para de oito a 12 anos de reclusĂŁo.
JĂĄ em relação ao estupro de vulnerĂĄvel (artigo 217-A), que Ă© quando a vĂtima tem menos de 14 anos ou Ă© incapaz de oferecer resistĂȘncia, o tempo de pena varia de oito a 15 anos. Apenas quando o crime Ă© praticado contra vulnerĂĄvel e resulta em lesĂŁo corporal grave que a pena pode chegar a 20 anos.
Para critĂ©rio de comparação, em uma situação hipotĂ©tica na qual uma mulher adulta, que foi estuprada e interrompa a gravidez apĂłs a 22ÂȘ semana (aproximadamente cinco meses e meio), pode ser condenada a 20 anos de prisĂŁo, enquanto que o homem que a estuprou fique entre seis e 10 anos preso.
Sobre esta discrepĂąncia, o autor do projeto disse ao blog da AndrĂ©ia Sadi, no g1, que a aplicação da lei “ficarĂĄ a cargo do juiz” e que tentaria negociar.
TambĂ©m ao blog da AndrĂ©ia Sadi, no g1, a advogada Gabriela Sousa, especialista em advocacia feminista e sĂłcia da Escola Brasileira de Direito da Mulher (EBDM), avaliou que o projeto tem objetivo “de chancelar a dominação dos corpos das mulheres” e afirma que a proposta Ă© uma violação dos direitos humanos e inconstitucional, que viola tratados internacionais aos quais o Brasil Ă© signatĂĄrio.
“Quando a gente encara uma realidade onde hĂĄ uma proposta de que o aborto tem uma pena maior do que o homicĂdio, a gente deixa claro a ausĂȘncia de valores e a ausĂȘncia de respeito aos direitos, aos corpos e Ă autodeterminação de todas as mulheres, deixando claro que se valoriza o nascimento e nĂŁo a vida”, completou.
Atualmente no Brasil, o aborto em caso de estupro Ă© legalizado e nĂŁo prevĂȘ restrição de tempo para o procedimento nesta situação.Â
A proposta é assinada por 32 deputados, incluindo o segundo vice-presidente da Casa, Sóstenes Cavalcante, e o presidente da bancada evangélica, Eli Borges (PL-TO).