Com acordo de cooperação técnica, Secretaria de Segurança Pública passa a utilizar estratégia de policiamento preditivo para baixar ainda mais os números de Alagoas
A Segurança Pública de Alagoas vai utilizar uma ferramenta que pode mudar para sempre a história de combate à criminalidade. Um termo de cooperação técnica foi assinado para o uso da inteligência artificial no policiamento preditivo, que é aquele que consegue fazer a alimentação e o cruzamento de dados sobre crimes e assim efetivar ações de forma preventiva.
Programa de inteligência artificial da SSP estima reduzir criminalidade em até 26%
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Sem ônus algum para o Estado, o programa da empresa japonesa Singular Perturbations estima reduzir em até 26% os crimes – incluindo homicídios – e contravenções de todas as ordens. Para ter uma ideia, tomando-se como base os dados do Monitor da Violência do dia 12 de março de 2024, pelos menos 294 dos 1.131 dos crimes violentos intencionais registrados no ano passado poderiam ter sido evitados caso a tecnologia já estivesse funcionando.
Outro exemplo: segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) do Ministério da Justiça, no ano passado foram registradas 1.683 ocorrências de roubo de veículos em Alagoas, uma redução de 1,81% na comparação com 2022. Dentro da estimativa prevista pela SSP de redução de até 26% com a aplicação da inteligência artificial, esse volume tende a cair para 1.246 em um ano – o que representa 437 ocorrências a menos nessa espécie de crime.
O diretor de Tecnologia da Singular Perturbations, Keisuke Nishitani, explicou que o programa trabalha em duas frentes. Uma delas – chamada Hot Spot Policing ou policiamento em pontos críticos numa tradução livre – se baseia no mapeamento das regiões onde há grande incidência de crimes. Nesse sentido, o Núcleo de Estatística e Análise Criminal (Neac) da SSP desempenhará um papel fundamental na ‘alimentação’ dos dados para o programa japonês.
“A Segurança Pública de Alagoas já faz o trabalho de Hot Spot Policing, por meio do Neac. Sendo que esse algoritmo de inteligência artificial aplica uma velocidade muito maior nessa predição criminal”, explicou o chefe de Articulação de Políticas de Prevenção da SSP, tenente-coronel Iran Rêgo.
A partir do preenchimento de dados, o programa vai saber, por exemplo, que do total de crimes violentos letais ocorridos em Alagoas em janeiro deste ano, 46,5% foram em vias ou locais públicos; a terça-feira foi o dia que registrou o maior número de homicídios, e que a maioria das mortes aconteceu entre às 18h e 23h59, segundo dados do Neac, que traz ainda informações sobre os bairros com maior incidência de crime, tipo de arma usada, entre outras informações.
CASE
Em julho de 2022, a empresa japonesa firmou termo de cooperação com a Prefeitura de Belo Horizonte, que previa a implementação da inteligência artificial em seis etapas, com duração de oito semanas. Assim como em Alagoas, o programa tinha custo zero para o município.
Nesse período, houve queda de 23% do registro de furtos de cabos – um dos problemas enfrentados pela gestão municipal -, baixando de 300 para 231 casos nas áreas onde o método foi aplicado, se comparado aos locais onde a definição da rota de patrulhamento continuou sendo feita de forma tradicional.
“O resultado positivo levou a Prefeitura a firmar nova parceria com a Singular Perturbations, desta vez para otimizar a atividade de videomonitoramento da cidade. A nova experiência ainda está em andamento”, informou a Guarda Civil Municipal de Belo Horizonte, em nota.
Iran Rêgo ressalta que o algoritmo preditivo ficará em testes pelos próximos três meses, sendo alimentado com as informações do Neac. A ideia é que, depois desse período, o programa passe a atuar pelos próximos dois anos. “A gente vai iniciar o treinamento com o pessoal que vai ter acesso ao programa, que basicamente consiste no preenchimento de um formulário com dados criminais, a serem trabalhados pelo algoritmo e transformados em indicações de policiamento, utilização de recursos e rondas policiais”, explicou.
FUNCIONAMENTO
Aramis Ocrécio da Silva, técnico de desenvolvimento de sistemas e aplicativos do Instituto de Tecnologia em Informática e Informação do Estado de Alagoas (Itec), ressalta que muito se discute sobre inteligência artificial, mas pouca gente sabe o que realmente significa. “Antigamente, a gente tinha tarefas manuais, que foram automatizadas e viraram um software [conjunto de instruções, dados e programas que ditam o funcionamento de computadores, smartphones, tablets e outros dispositivos eletrônicos]. Esse software gera dados que, graças a métodos matemáticos, são transformados em alguma informação útil”, diz.
“Vamos pensar numa tabela de dados com dez informações. Por exemplo: eu tenho um grupo de dez pessoas, das quais cinco têm uma alimentação saudável e outras cinco, não. Eu posso concluir que cinco delas terão uma vida mais longeva, certo? A conta é simples. Mas se a gente pensar em uma escala de um milhão de dados, para o ser humano já fica complicado fazer esses cálculos. É aí que entra a Inteligência Artificial”, explica.
A analista de sistema do Itec, Larissa da Silva Santos, completa a ideia. “A gente vai alimentando uma base de dados que começa a gerar padrões. E o algoritmo preditivo começa a prever o que poderá acontecer. Pode não ser 100% de certeza, mas a chance é enorme, e a gente pode atuar ali. No caso da Segurança Pública, pode-se evitar um possível delito”.
Em síntese, um algoritmo preditivo é uma ferramenta matemática que usa dados históricos para fazer previsões sobre o futuro. Imagine uma fórmula mágica que analisa um grande volume de informações para descobrir padrões e, assim, prever o que pode acontecer. “Lembrando sempre que mesmo diante da tecnologia, é sempre o gestor que está na ponta que vai tomar a decisão final. Na verdade, esse algoritmo de predição criminal vai apontar os caminhos, mas a gente é que vai tomar as decisões”, finaliza o chefe de Articulação de Políticas de Prevenção da SSP.