“Uma revolução na vida urbana”. É assim que o príncipe da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, e a equipe por trás do projeto apresentam a “The Line”. De fato, trata-se de um conceito bastante original de como construir uma cidade: todas as construções são dispostas ao longo de uma única linha — daí o nome do projeto — com 170 quilômetros de comprimento. A linha atravessa quatro “ambientes” no deserto da Arábia Saudita.
Mas ninguém vai precisar carros para se deslocar por essa distância: todos os serviços estarão disponíveis em “nós”, a cinco minutos de caminhada. Quando você precisar ir para outro nó, poderá recorrer aos trens de alta velocidade no subsolo, que vão cortar a cidade de ponta a ponta em menos de 20 minutos. A ideia é que a cidade linear possa abrigar cerca de um milhão de pessoas quando estiver pronta.
Será que isso dá certo?
A ideia parece interessante, no papel — quem curte jogos de construção de cidades, como Cities Skylines e Sim City, talvez esteja pensando em testar essa ideia em algum projeto. Mas especialistas em planejamento urbano parece um pouco menos animados com o projeto que o príncipe Mohamed Bin Salman.
O primeiro desafio está nas promessas de “atravessar a cidade em 20 minutos” e “ter todos os serviços a minutos de caminhada”. Para alcançar a primeira promessa, seriam necessários trens ultra-rápidos — nem mesmo os trens-bala chineses conseguem fazer 170km em 20 minutos. Talvez os Hyperloop da Virgin e da SpaceX consigam… Mas eles são apenas projetos e vão precisar de uma década para se tornar realidade.
O outro problema é que trens tão rápidos são muito caros. Então seria preciso ter muita gente utilizando esses transportes, para que eles se pagassem. Isso significa que cada “nó” da cidade precisaria ser maior que a distância que uma pessoa pode caminhar em menos de cinco minutos. Uma conta difícil de fechar.
A ideia é que a cidade não tenha carros no primeiro nível, com trens e serviços funcionando pelo subsolo (Fonte: The Line/Reprodução)
Por fim, os especialistas levantam outra dúvida: como manter a linha… linear? Isto é: sem que ninguém construa fora do espaço planejado no projeto? Claro que as rígidas leis da Arábia Saudita podem ajudar a manter “a linha”, mas os especialistas ponderam que as cidades projetadas geralmente acabam se desenvolvendo de formas diferentes do que previa o plano inicial — e os organizadores precisam estar preparados para isso.
Um bom exemplo, citado pelo portal LiveScience é a nossa capital. Brasília foi pensada para ter a silhueta de um avião, com grandes eixos de deslocamento por carro. Na vida real, a maioria dos trabalhadores acaba vivendo “fora do avião” e gasta horas no trajeto para trabalhar no centro da cidade. Será que essa será a realidade da “The Line”?
Além disso, o projeto — que tem custo estimado de 400 bilhões de euros — tem outro problema: há uma tribo, com cerca de 20 mil pessoas, vivendo no local. “Para a tribo Huwaitat, a cidade está sendo construída em cima do nosso sangue, em cima dos nossos ossos”, afirmou um membro ativista, ao jornal inglês The Guardian. Segundo ele, o projeto está pensando apenas nos turistas ricos e não nas pessoas que já vivem ali.