O preço do arroz disparou nas últimas semanas e o mercado voltou a praticar valores só vistos na pandemia, em 2020. Desde junho, o preço da saca de 50 quilos já subiu 23%.
O clima no Rio Grande do Sul — que registrou meses de estiagem e recentemente sofreu com o ciclone extratropical — está entre as razões.
Preço do arroz dispara e volta ao patamar da pandemia
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o CEPEA, da Universidade de São Paulo (USP) mostram que a saca de 50 quilos voltou a ser negociada no patamar de R$ 100 nesta semana. O patamar foi atingido na quarta-feira (13), quando a saca fechou em R$ 100,64. Na quinta (14), nova alta para R$ 100,85.
Os valores praticados atualmente são os maiores desde novembro de 2020, quando o mês terminou em R$ 103,98. Na época, o Brasil viveu a dispara do preço do arroz no mercado doméstico e os preços ao consumidor chegaram a dobrar em poucos meses.
A diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva, explica que a disparada dos preços pode ser explicada por uma série de fatores, alguns conjunturais e outros estruturais.
Entre essas razões, ela cita o clima no Rio Grande do Sul, estado que responde por 70% da produção de arroz no Brasil. A safra que já foi colhida sofreu com a estiagem que castigou o Sul do Brasil em 2022.
Agora, na entressafra, o clima volta a preocupar porque as chuvas e o impacto do ciclo extratropical podem atrasar o início do plantio, que acontece em setembro.
“O ideal é plantar em setembro e no máximo até meados de outubro para escapar do frio de fevereiro, que prejudica a floração e enchimento do grão de arroz”, diz a especialista. Se houver atraso, a próxima safra pode ficar comprometida.
Andressa Silva também menciona a redução da área de plantio destinada aos arrozais.
“Houve uma concentração na produção e redução da área de plantio. Temos a menor área de plantio dos últimos 20 anos”, explicou ao lembrar que houve aumento da produtividade, mas a produção brasileira está abaixo da média histórica.
Historicamente, a safra brasileira gira em torno de 11 milhões de toneladas. “Essa média não foi alcançada na safra passada e ficamos com 10 milhões de toneladas”.
Clima ruim e menor área de produção foram potencializados pelo aumento de custos, como os combustíveis — que respondem por parte importante do custo final pago pelo consumidor.
No exterior, Andressa Silva chama atenção para dois fatos que também pressionaram os preços do arroz no mercado internacional. Na Ásia, a Índia — grande produtor mundial — restringiu as exportações do cereal.
Além disso, os estoques nos Estados Unidos estão baixos, o que impede a queda dos preços internacionais.
Sobre os próximos meses, a diretora-executiva da Abiarroz não tem um prognóstico muito otimista e os valores não devem cair no curto prazo. “Estamos com estoques baixos no Mercosul e recém ingressamos no período de entressafra na região. A tendência é de preços mais firmes”, disse.
Preço do arroz dispara e volta ao patamar da pandemia