'Na Fábrica Sebastião Ferreira, o povo não só tecia panos, tecia também sonhos'
Com sensibilidade poética e memória afiada, o escritor Ernande Bezerra revive a trajetória de um dos maiores símbolos industriais e sociais de Alagoas: a Companhia de Fiação e Tecidos São Miguel, também conhecida como Fábrica de Tecidos Sebastião Ferreira.
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Poeta Ernande Bezerra resgata história da lendária Fábrica Sebastião Ferreira em São Miguel dos Campos
Fundada em 1913, às margens do rio São Miguel, a fábrica nasceu do sonho do imigrante espanhol Bernardo Lopes, que acreditava na transformação social por meio do trabalho e da indústria.
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Segundo o relato de Bezerra, a construção da fábrica aconteceu em terras que pertenceram ao lavrador português Sebastião Ferreira, punido durante a Invasão Holandesa de 1630. Em sua homenagem, a população miguelense passou a chamar o empreendimento com seu nome — uma justa lembrança histórica que atravessou gerações.
A fábrica não era apenas um centro de produção têxtil, mas também de cultura e cidadania.
Após a morte de Bernardo, Abelardo Lopes, seu filho, assumiu a gestão e ampliou o papel social da empresa: criou o time de futebol “Fabril”, fundou uma escola de música, organizou procissões e festas operárias, e deu continuidade à banda da vila operária, formada por trabalhadores da indústria.
“Na Fábrica Sebastião Ferreira, o povo não só tecia panos, tecia também sonhos”, narra Ernande Bezerra, ao falar sobre o assunto.
A unidade impulsionou a formação de diversos talentos, entre artistas, médicos e atletas, como Fernando e Roberto Lopes, Eduardo Xavier, Agatângelo Vasconcelos, Délio Almeida, Alderico, Corino e Roldão.
Entretanto, a história de sucesso teve fim em 1971, quando a fábrica encerrou suas atividades por falta de recursos. O prédio foi vendido ao Grupo Mendo Sampaio, que implantou a Usina Roçadinho. Anos mais tarde, a estrutura original foi demolida — um golpe na memória afetiva da comunidade local.
Para Ernande Bezerra, o legado da Fábrica Sebastião Ferreira segue vivo na alma dos miguelenses. “Ela nos ensinou que uma indústria pode ser muito mais do que produção: pode ser educação, cultura, família e orgulho.”
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