Conhecida popularmente como doença do carrapato-estrela, a febre maculosa é uma infecção bacteriana “comum” em todos os estados brasileiros. Febre, dores e manchas avermelhadas pelo corpo são os sintomas mais recorrentes da condição, capaz de levar o paciente ao óbito, caso não seja tratada.
No começo de junho, um casal morreu no estado de São Paulo, possivelmente, em decorrência da febre maculosa. Aliás, após a morte, exames confirmaram que a doença foi a causa de óbito da mulher, e, até o momento, a perícia está investigando se há sinais da doença do carrapato-estrela no corpo do homem.
Alguns dias antes dos primeiros sintomas, ambos viajaram para o interior e, em poucos dias, começaram a apresentar sintomas inespecíficos que avançavam rapidamente. Antes da confirmação laboratorial da doença, eles faleceram.
Embora o caso mais recente tenha gerado repercussão, a febre maculosa é um problema relativamente comum no Brasil, mas pouco discutido. Entre os anos de 2007 a 2021, foram notificados 36,4 mil casos de febre maculosa no país, sendo que apenas 7% (2,5 mil) foram oficialmente confirmados com exames. Considerando apenas os confirmados, 834 mortes foram relatadas no período, com uma letalidade estimada em 32,8%, segundo o último boletim epidemiológico, do Ministério da Saúde.
O que é febre maculosa?
Antes de seguir, é importante explicar que duas bactérias diferentes podem provocar a doença no Brasil: a Rickettsia rickettsii, relacionado com a Febre Maculosa Brasileira (FMB), e Rickettsia parkeri, conhecida por desencadear um quadro normalmente menos grave.
Em ambos os casos, a bactéria é transmitida a partir de um carrapato contaminado. No Brasil, duas espécies distintas são associadas com a transmissão da doença que pode ser mortal: o Amblyomma sculptum e o Amblyomma aureolatum. Ambos podem ser referidos informalmente como carrapato-estrela, como é o caso do Amblyomma cajennense (incomum no país).
Para conhecer os vetores da febre maculosa, confira um exemplo da espécie Amblyomma sculptum:
Agora, veja um carrapato da espécie Amblyomma aureolatum:
Na maioria das vezes, esses carrapatos (infectados ou não) estão presentes em cavalos, bovinos, caprinos, roedores de grande porte, como capivaras, e marsupiais. Inclusive, animais domésticos, como cães e gatos, podem carregá-los. Nessas espécies, a doença também pode ser mortal.
Origens da doença do carrapato
O interessante é que a doença é relativamente nova entre os humanos. Os primeiros registros da febre maculosa datam o final do século XIX. Nessa época, o médico Edward E. Maxey descreveu, pela primeira vez, os sintomas da Febre Maculosa das Montanhas Rochosas, comum em algumas áreas dos Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, os primeiros casos da doença são de 1929, vindos de áreas rurais dos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Sintomas da febre maculosa
Obrigatoriamente os casos de febre maculosa estão relacionados com a picada de um carrapato contaminado, mesmo que o indivíduo não se lembre do episódio. Passados sete dias em média de incubação — em alguns casos, o período de incubação pode ser de 14 dias —, o paciente começa a apresentar os primeiros sintomas da infecção bacteriana.
Veja a seguir os principais sintomas da febre maculosa:
- Mal-estar;
- Calafrios e tremores;
- Febre, que começa baixa, mas vai aumentando conforme a doença evolui;
- Dores no corpo;
- Tosse;
- Náusea e vômitos;
- Dor abdominal;
- Forte dor de cabeça;
- Pequenas manchas avermelhadas na pele, conhecidas por exantema maculopapular.
Se a doença não for corretamente diagnosticada e tratada com antibióticos, os sintomas e as complicações tendem a piorar. Nesses casos, a pessoa com febre maculosa pode apresentar:
- Necrose das extremidades, como nas pontas dos dedos;
- Insuficiência renal;
- Problemas respiratórios;
- Hemorragias;
- Arritmia cardíaca;
- Icterícia, onde a pele e o fundo dos olhos ficam amarelados;
- Edema cerebral e meningite.
Dengue hemorrágica é parecida com febre maculosa?
Conforme aponta o manual da febre maculosa, elaborado pelo Ministério da Saúde, o diagnóstico pode ser complexo, já que a condição compartilha sinais e sintomas comuns para outras doenças na fase inicial, como a dengue hemorrágica. Por exemplo, febre e dor no corpo são comuns nos dois quadros.
Nesses casos, é fundamental que o médico responsável considere o histórico recente do paciente. Pode ser um forte indicador da doença a presença em áreas em que os carrapatos podem ser facilmente encontrados, como ambientes rurais.
Aqui, as manchas vermelhas são um fator chave na distinção entre as doenças, já que a dengue não provoca esse tipo de manifestação. Normalmente, as manchas sem pus surgem nos punhos, tornozelos, palmas das mãos e planta dos pés. Caso a doença avance, essas manifestações também se espalham, chegando aos braços, pernas, tronco e rosto.
Tratamento da febre maculosa
Para evitar as complicações, o tratamento médico contra a febre maculosa começa ainda na fase de suspeita, já que os exames laboratoriais costumam demorar. Aqui, vale pontuar que o tratamento precoce é fundamental na taxa de sobrevivência.
“A febre maculosa pode ser curada com um antibiótico barato. Porém, se o medicamento não é administrado no início da infecção, a bactéria faz um estrago grande nos vasos sanguíneos e o dano se torna irreversível”, explica Elba Lemos, chefe do Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses do IOC/Fiocruz, para a Agência Fiocruz.
Existe repelente de carrapato?
Entre as estratégias de prevenção contra a febre maculosa, está o uso de repelentes, como DEET, IR3535 e Icaridina. “Foi demonstrado que os repelentes diminuem efetivamente o risco de picadas por uma variedade de espécies de carrapatos quando aplicados nas vestes ou sobre a pele nua”, detalha o Ministério da Saúde, em seu manual sobre a doença.
Por outro lado, o efeito protetor de óleos ainda não está bem estabelecido. “Óleos e essências oriundos de diversificada flora — eucalipto, citronela, gerânio, lavanda e cedro — apresentam algum potencial como repelentes para carrapatos, necessitando mais estudos para transformar bons resultados laboratoriais em promissoras experiências de campo”, aponta o documento.
Outras medidas de proteção contra a doença do carrapato
No entanto, é preciso destacar que os repelentes são apenas uma das iniciativas que ajudam a prevenir contra a febre maculosa. Vale usar roupas claras ao frequentar regiões de risco, infestadas por carrapatos, o que facilita a identificação.
É muito importante que a pessoa que visitou locais propícios para a disseminação de carrapatos faça um autoexame, após chegar em casa. O mesmo deve ser feito com animais, como cachorros.
Como tirar o carrapato da pele?
Se a pessoa encontrar um carrapato sobre a pele, a orientação é que ele seja retirado com leves torções e com o auxílio de uma pinça. A remoção nunca deve ser feita com as unhas e nem com o esmagamento, já que isso pode contribuir com os casos de infecções. Em caso de dúvidas ou de possíveis sintomas, a orientação é sempre buscar por atendimento médico imediato.