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Nova espécie de ave é descoberta em Alagoas e já está ameaçada de extinção

Hermínio Vilela

Uma nova espécie de surucuá, ave da família Trogonidae, acaba de ser descrita. Descoberta nos remanescentes de Mata Atlântica do Estado de Alagoas, a espécie ocorre em uma área restrita na Estação Ecológica (ESEC) de Murici e conta com poucos indivíduos, por isso, foi considerada pelos cientistas como “criticamente ameaçada”. O artigo que descreve a espécie foi publicado no último dia 6, no Zoological Journal of the Linnean Society.

A nova espécie foi batizada de surucuá-de-murici (Trogon muriciensis), em homenagem à sua área de ocorrência. Ele se distingue de qualquer outra espécie do gênero pelo tamanho – é um pouco menor –, pela coloração da plumagem e pelo barramento da cauda, que segue um padrão de listras. Além disso, foram encontradas diferenças no canto e em caracteres genéticos. Todas estas características foram identificadas em exemplares machos. A fêmea ainda não é conhecida.

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“Esta é uma espécie nova e ainda desconhecida da ciência”, explica o ornitólogo Luís Fábio Silveira, curador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo.

Segundo ele, durante os trabalhos de campo foram detectadas apenas 20 aves, em uma área isolada, e a estimativa dos pesquisadores é que a população não ultrapasse 90 casais. Em museus, há somente dois exemplares depositados. 

Ilustração do Trogon muriciensis (MZUSP 112768) descoberto na Estação Ecológica de Murici, Alagoas. Ilustrado por Eduardo Brettas.

Por estas características, a nova espécie já corre perigo de extinção e “exige urgentes ações de conservação”, alertam os pesquisadores no estudo.

“A ESEC de Murici tem um altíssimo grau de endemismo. Ela foi criada justamente pelo elevado número de espécies endêmicas e aves ameaçadas de extinção. Atualmente, são conhecidas mais de 40 espécies que ocorrem no Centro de Endemismo Pernambuco e estão nesta categoria”, diz Marco Antonio de Freitas, analista ambiental e chefe da Estação Ecológica de Murici.

“O surucuá-de-murici é um pássaro candidato a virar a espécie símbolo da Estação Ecológica, não só pela beleza, mas pelo significado da sua descoberta e seu status de conversação, o que aumenta ainda mais a responsabilidade do ICMbio de finalizar a indenização da área em que será construída a sede da ESEC, para que possamos aumentar a proteção efetiva, a presença física, dentro da unidade”, complementa Freitas.

Revisão taxonômica

O trabalho que levou à descoberta da nova espécie em Alagoas também promoveu uma ampla revisão taxonômica dos surucuás-de-barriga-amarela (Trogon rufus), grupo bastante complexo – já que muitas variações de plumagem receberam nomes, dividindo-o em subespécies ou espécies – e cuja distribuição é bastante ampla pelas florestas da América do Sul e Central.

Antes da revisão, eram consideradas seis subespécies para este surucuá: Trogon rufus rufus, Trogon rufus tenellus, Trogon rufus cupreicauda, Trogon rufus sulphureus, Trogon rufus amazonicus e Trogon rufus chrysochloros, que ocorrem desde o sul da Guatemala até o norte do Uruguai e nordeste da Argentina.

Em 2019, pesquisadores de diferentes partes do globo começaram a se debruçar sobre este grupo de aves, levando à reclassificação de três das subespécies, que passaram a ser consideradas espécies à parte.

Para que esta revisão fosse feita, foram avaliadas 906 peles, depositadas em vários museus do mundo. A análise valeu-se de dados detalhados de coloração – possíveis de serem captados a partir do uso de um espectofotômetro – medidas de bico, asa e cauda, além de outros aspectos morfológicos. 

“Também usamos dados de vocalização e dados genéticos para entender a natureza da variação por toda a distribuição geográfica, e como ela pode ser traduzida na forma da definição das espécies válidas”, diz Silveira.

Segundo os pesquisadores, ao longo da bacia amazônica brasileira existem três áreas de intergradação – quando duas subespécies distintas ocorrem em áreas onde suas populações têm as características de ambas – entre as subespécies dos táxons sulphureus, rufus amazonicus, que cruzam entre si e que foram mantidas com esta classificação taxonômica. 

Já os táxons tenellus cupreicauda, que ocorrem no norte da América do Sul e América Central, e chrysochloros, endêmico do bioma Mata Atlântica, são muito distintos de suas subespécies da bacia amazônica, tendo sido considerados espécies distintas. 

Desta forma, com a revisão, além do Surucuá-de-Murici (T. muriciensis), a Mata Atlântica também ganhou uma segunda espécie endêmica do bioma, o Trogon chrysochloros, ainda não batizado com nome popular no Brasil. 

“Isso demonstra o quão importante e relevantes são as coleções biológicas, que são a base material para estudos mais refinados. Além disso, trabalhos de campo e de laboratório, onde dados genéticos e das vocalizações podem ser obtidos e estudados, permitem que o nosso conhecimento sobre a diversidade, expresso em revisões taxonômicas, seja muito mais preciso hoje em dia”, complementa Luis Fábio Silveira. 

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