Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (sem partido) trocaram abraços, posaram para fotos e dividiram a mesma mesa de um restaurante de São Paulo, no último domingo (19). A relação entre os dois, que podem formar uma chapa presidencial no ano que vem, porém, nem sempre foi harmoniosa. Expoentes de partidos antagônicos por quase 30 anos, PT e PSDB, o ex-presidente e o ex-governador têm um histórico de ataques e acusações mútuas.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2006, Alckmin disse que o escândalo do mensalão, que estourara no ano anterior, envolvia “assessores diretos” de Lula, sem que fosse apresentado quem era o “chefe”.
O petista chegou a ganhar um direito de resposta na Justiça após Alckmin compará-lo a um “ladrão de carros” e dizer que no governo federal havia uma “sofisticada organização criminosa”. O ex-governador disse, ainda, que o petista era “fujão” por não ir a debates na TV.
“O que vimos foi uma lambança do ponto de vista ético. O governo não funcionou, é ineficiente, devagar”, disse Alckmin, em 17 de outubro daquele ano.
Numa convenção do PSDB em 8 de dezembro de 2017, ele declarou que Lula e o PT “quebraram o Brasil”, adotaram um método de “confundir para dividir e iludir para reinar” e que o petista queria voltar à “cena do crime” ao concorrer à Presidência.
O petista também coleciona uma lista de ataques. Após um debate, em 2006, disse que se irritava com a “pequenez” de Alckmin, que havia criticado a compra de um avião pela Presidência. Embora não tenha citado Alckmin diretamente, Lula afirmou, em um programa de TV, que “o Brasil sabe muito bem quem deixou São Paulo refém do crime organizado”, em referência aos ataques ocorridos em maio daquele ano.
Em discurso durante a campanha de Alexandre Padilha ao governo paulista, em 24 de setembro de 2014, Lula reclamou que Alckmin não era responsabilizado pela crise de abastecimento de água que atingia o estado: “Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu. É insosso, como se fosse comida sem sal. Nunca fala de nenhum problema do estado.”
Entusiastas da chapa argumentam que as trocas de farpas ocorreram sempre no ambiente eleitoral e que não houve ataques pessoais. Lula e Alckmin já declararam, inclusive, que não há nada irreconciliável. Interlocutores citam o caso da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que fez críticas duras ao futuro presidente Joe Biden durante as prévias do Partido Democrata.