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Justiça manda reassentar famílias retiradas de fazenda em Jequiá da Praia

Cumprimento provisório de sentença atende pedido do MPF após mais de uma década de omissão do Incra

Justiça manda reassentar famílias retiradas de fazenda em Jequiá da Praia
Justiça manda reassentar famílias retiradas de fazenda em Jequiá da Praia (imagem: AlagoasWeb)

A Justiça Federal em Alagoas acolheu pedido do Ministério Público Federal (MPF) e determinou, em caráter provisório, que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) cumpra sentença de 2020 que obriga o reassentamento de 53 famílias de agricultores removidas da Fazenda Matas do Gajuru, no município de Jequiá da Praia.

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Justiça manda reassentar famílias retiradas de fazenda em Jequiá da Praia

O juiz federal Raimundo Alves de Campos Júnior, titular da 13ª Vara Federal de Alagoas, entendeu que embora ainda tramitem recursos no processo, estes não possuem efeito suspensivo, permitindo que o MPF pedisse — e a Justiça Federal acolhesse — o cumprimento provisório da sentença, confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), que reconheceu o direito das famílias ao reassentamento, determinando que o Incra: a) Inclua as famílias identificadas na RB no prazo de até 180 dias; b) Efetue o reassentamento, em local regular e livre de litígios, no prazo máximo de dois anos.

O caso tem origem em 2008, quando essas famílias, inscritas como excedentes no Projeto de Assentamento Sebastião Gomes, em Flexeiras, aguardavam a desapropriação da Fazenda Matas do Gajuru, para serem incluídas no Programa Nacional de Reforma Agrária.

O Incra chegou a adquirir a propriedade e transferir as famílias para lá. No entanto, poucos meses depois, em dezembro de 2011, uma ação judicial de reintegração de posse tornou a desapropriação ineficaz, obrigando a retirada das famílias do local.

Desde então, essas famílias enfrentam anos de vulnerabilidade: algumas foram realocadas provisoriamente em outros assentamentos; outras acabaram deslocadas para centros urbanos, sem estrutura nem apoio. O MPF vem buscando resolver a situação, desde 2012, por meio de diálogo institucional, expedindo recomendações e promovendo reuniões com o Incra — sem sucesso.

Laudos periciais elaborados por antropólogos do MPF identificaram as famílias impactadas e apontaram graves irregularidades no processo que aprofundaram a situação de vulnerabilidade social. Apesar de reconhecer parte das falhas, o Incra não implementou as medidas necessárias, como a inclusão das famílias na Relação de Beneficiários (RB) e sua priorização nos processos de assentamento, conforme previsto na Recomendação nº 03/2018.

A procuradora da República Julia Cadete ressalta que “o prolongamento dessa situação por mais de uma década configura grave violação de direitos fundamentais, especialmente o direito à moradia, à dignidade humana e à reforma agrária”.

O MPF seguirá acompanhando de perto o cumprimento das obrigações, e a sentença prevê, caso o Incra não cumpra os prazos, a possibilidade de conversão das obrigações em perdas e danos.

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