Além de implantar nas áreas de urgência e emergência adulta toda a metodologia do Programa Lean nas Emergências, o Hospital Geral do Estado (HGE) estendeu e adaptou todos os processos de trabalho para a ala pediátrica. O resultado disso não podia ser outro: menor tempo de permanência, maior agilidade nos atendimentos, maior rotatividade de usuários, melhor acolhimento e maior frequência de transferências e altas médicas.
Para quem ainda não sabe, o projeto Lean nas Emergências é uma iniciativa do Ministério da Saúde, desenvolvido pelo Hospital Sírio-Libanês, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). Ele visa promover melhoramentos no atendimento hospitalar de urgência e emergência na saúde pública. É baseado no modelo do Toyotismo, que no fim da Segunda Guerra Mundial buscou a eliminação dos desperdícios, o investimento na qualidade dos processos de trabalho e o atendimento a expectativa dos usuários, além do controle de todas as etapas de trabalho.
“Esse modelo foi adaptado ao universo da saúde. Nos últimos anos, muitos hospitais privados incorporaram essa ferramenta de gestão para organizar o fluxo de pacientes e tornar outros processos internos mais eficientes. No segundo semestre de 2018, o HGE foi incluído no Lean nas Emergências, o primeiro hospital em Alagoas que pode treinar suas equipes, junto a uma equipe especializada do Sírio-Libanês, alcançando êxitos inimagináveis em outras gestões, como o fim dos pacientes nos corredores”, orgulha-se a gerente do HGE, Marta Mesquita.
O projeto poderia parar por aí, mas não foi o desejo de toda a equipe que recebeu a consultoria. Desse modo, a Gerência do HGE decidiu expandir todo o aprendizado para principal porta de entrada ao atendimento infantil de urgência e emergência em Alagoas. A iniciativa, além de bem vinda, transformou todos os métodos de trabalho, alcançando resultados positivos para o hospital e, principalmente, para as crianças.
“Antes o tempo de permanência no setor era de até quatro dias, agora não passa de 24 horas. Antes, atendíamos por dia, uma média de 40 crianças, tendo 15 altas médicas; o número de atendimentos permanece, mas o número de altas dobrou. Isso porque, também dobraram o número de transferências, agilizamos a administração de medicações, organizamos o espaço do setor, conseguimos diminuir o tempo para entrega do resultado de exames e aumentamos a rotatividade de leitos”, explicou a enfermeira do Núcleo Interno de Regulação (NIR), Lisiane da Silva.
Entretanto, o pediatra Márcio Macêdo defende que o principal avanço está na mudança da mentalidade nas pessoas. Segundo ele, o projeto fez com que todos os profissionais da pediatria (médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e outros) se engajassem no objetivo de conceder mais resolutividade à saúde do doente, sem passar a responsabilidade para o outro profissional.
“Quando todos começaram a raciocinar da mesma forma, indo correr atrás de exame e até mesmo da transferência do paciente, começou tudo a andar, pois os movimentos ganharam uma mesma direção. E se ocorrer da demanda crescer além do que esperamos, agora também estamos entendidos sobre o que fazer para que todos sejam assistidos corretamente de forma mais rápida, de maneira que tranquilizamos tanto a criança e como os pais”, relatou o pediatra.
Pedro Henrique de Oliveira tem 10 anos de idade. Ele foi transferido da cidade de Anadia após fortes dores de ouvido, seguidas de febre, tontura e dores na coluna, durante uma semana. Ao ser examinado no HGE, a constatação de anemia e colesteatoma – um tumor benigno que afeta o ouvido médio, formado pelo acúmulo de camadas de pele atrás da membrana timpânica. A conduta é internar e a vaga já estava disponível no momento do diagnóstico.
“Ele mora comigo e com nossa avó. Nunca tínhamos vindo ao HGE, achei ótimo e rápido o atendimento. Ficamos muito preocupadas quando vimos a saúde dele piorar e não estávamos encontrando a solução para o problema. Viemos na esperança de que ele fique bom logo, volte a estudar e brincar com os amigos dele. Estamos torcendo para que isso aconteça logo”, disse a prima da criança, Amanda de Oliveira Silva, de 18 anos.
O caso do Pedro é referenciado para o HGE, mas, a maioria dos atendimentos que chega à emergência pediátrica ainda apresenta perfis fora da Média e Alta complexidade. Para o pediatra Márcio Macêdo, isso se deve a carência de serviços ainda sentida pela população nos postos de saúde, além da cultura de transferir a criança por reconhecer o alto poder resolutivo do hospital.
“O problema é que essa postura contribui com a nossa lotação, pois quando qualquer paciente chega, é nossa obrigação acolher, assim como reavaliar todos aqueles que estão na observação, para concluir se devem continuar na unidade, devem ser transferidos para outras unidades referenciadas ou se já apresentam quadro de saúde para alta médica. Somente a partir daí que podemos iniciar a regulação dos leitos e disponibilizar os desocupados para os que chegam. Ações que repetimos inúmeras vezes no plantão e que exigem tempo”, detalhou Márcio Macêdo.
Para a pediatria do HGE são indicados casos que envolvem problemas respiratórios (asma, pneumonia etc.), portadores de sequelas (paralisia cerebral, traqueostomia etc.), diarreia prolongada, doenças cardiovasculares e outros casos que pedem uma atenção mais especializada. Os demais perfis podem ser assistidos nas unidades de saúde municipais, ambulatórios, hospitais regionais e Unidades de Pronto Atendimento (UPA).