O Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, também está engajado na Campanha de Prevenção ao Suicídio, realizada ao longo do mês de setembro. Na programação deste mês, estão previstos atos simbólicos, momentos de conscientização e abertura de espaço para diálogos. As ações serão lideradas por psicólogos e assistentes sociais, que participam do atendimento aos casos de usuários que atentam contra a própria vida e que, diariamente, são assistidos na maior unidade de urgência e emergência de Alagoas.
Para ser ter uma ideia, em 2019 o hospital notificou 432 tentativas de suicídio. Ano passado, com o enfrentamento da pandemia da Covid-19, este número caiu para 303, mas, permanece alto – principalmente porque a campanha visa zerá-lo. Este ano, de janeiro a agosto, o setor de registro já identificou 125 casos. O perfil destes pacientes apresenta maioritariamente confusões mentais e negação, ou falta de conhecimento, de adversidade existente.
“São relatos de problemas amorosos, perda de ente querido, abandono, negação de uma condição, problemas profissionais, falta de oportunidades e vícios, por exemplo. Há atos impulsivos e outros até planejados e articulados. Lamentavelmente, são poucos os que afirmam que procuraram a terapia com o psicólogo. Ou por não ter interesse, ou por não ter condições de acesso. Mas, aqui no hospital, todos os que chegam são acolhidos por nossas equipes e, no momento da alta, encaminhamos para a Rede de Atenção Psicossocial”, informou a coordenadora da Psicologia do HGE, Tasmânia Quintela.
M. S. S., de 17 anos, foi admitida no último dia 3, após ingerir vários medicamentos de uma vez. Ela foi trazida pela própria mãe e relatou, à equipe multidisciplinar da Área Vermelha Clínica, que tentou o suicídio após romper com o namorado. Ainda muito abalada, após conversar com os profissionais do setor, ela demonstrou arrependimento pelo ato, mas, precisou receber um tratamento que revertesse à ação das drogas.
“Ela até disse que iria focar nos estudos e se dedicar ao ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio]. Esse é um caso que conseguimos contornar a situação, porém existem outros que isso não é possível, ou que deixa sequelas permanentes. Por isso, é importante reforçar ações que valorizem a vida e fortaleça a saúde mental. Principalmente em meio a uma pandemia que causou altos níveis de tensão, dores e ansiedade”, enfatizou a assistente social, Ana Cláudia de Jesus.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, no Brasil são registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos; no mundo, esse quantitativo ultrapassa um milhão. De acordo com a assistente social do HGE, essa triste realidade tem afetado muito os jovens, que encontram graves dificuldades em sua formação. Por isso é importante que os amigos e familiares fiquem sempre atentos em caso de isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades, descuido com a aparência, piora do desempenho nos estudos ou no trabalho, alterações no sono e no apetite e a emissão de frases suspeitas, como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer”.
“A eliminação da possibilidade de suicídio pode vir de um amigo, parente, colega de trabalho ou de estudos, professores, ou até mesmo de qualquer pessoa que esteja próxima a quem precisa de ajuda. Se o cidadão não está no HGE, a Sesau [Secretaria de Estado da Saúde] orienta que busque acolhimento em uma Unidade Básica de Saúde [o posto de saúde da cidade], munido dos documentos pessoais e originais e seu Cartão SUS [Sistema Único de Saúde]. A equipe da Atenção Básica irá acolher, fazer a triagem e, possivelmente, encaminhar para um Centro de Atenção Psicossocial [CAPS]”, informou a assistente social.
Em caso de crise, Sesau recomenda que seja acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que levará o cidadão para um hospital psiquiátrico ou qualquer unidade de urgência e emergência, como o HGE e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Após a estabilização, a equipe poderá referenciar ao CAPS ou para o Hospital Escola Portugal Ramalho (HEPR), em Maceió.