Oficializada a federação entre a Rede e o Psol, um provável passo seguinte na união dos dois partidos será definir-se por apoiar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, à Presidência. Uma opção, porém, que não deverá ser seguida por uma das estrelas da Rede, a ex-senadora alagoana Heloisa Helena, que sairá candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro.
Por enquanto, ainda não há definição sobre quais serão as posições oficiais do Psol e da Rede. A federação está decidida, mas ainda precisa ser homologada pelos dois partidos e depois pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Unidos em federação, Rede e Psol tomarão a sua decisão sobre a eleição presidencial. Mas o Congresso em Foco apurou que dificilmente os dois partidos não se definirão por apoiar Lula já a partir do primeiro turno. O coordenador da campanha de Lula, Randolfe Rodrigues (AP), é senador pela Rede.
Uma opção, porém, que não deverá ser seguida por Heloísa Helena, que deverá manter apoio à candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Para tanto, ela pretende se valer de um dispositivo que irá constar do estatuto conjunto da federação formada pela Rede e pelo Psol, batizado de “cláusula de divergência pública”.
De acordo com a regra da federação, cada partido preserva seu estatuto e seu programa, mas precisa ter também um estatuto e um programa comuns da federação que precisarão ser respeitados durante os quatro anos em que estarão unidos. Para garantir que os partidos mantenham determinadas posições divergentes, o estatuto irá prever essa cláusula, que poderá ser invocada em situações particulares ou em posições regionais de cada legenda.
Expulsa do PT
Caso o apoio a Lula fique definido, Heloisa deverá invocar a cláusula de divergência. Quando Lula foi eleito presidente em 2002, ela era senadora pelo PT de Alagoas. Chegou a ser líder do partido no Senado. As ações de Lula mais à direita, porém, sobretudo na condução da economia em seu primeiro governo, aprofundaram divergências entre a senadora e o presidente, sobretudo na votação da reforma da Previdência promovida então por Lula. Por se recusar a votar a reforma da Previdência, Heloisa Helena foi expulsa do partido. Foi depois uma das fundadoras do Psol, partido do qual também se saiu para se integrar à Rede, fundada pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
As divergências com Lula e o PT criadas desde então são, para Heloísa Helena, inconciliáveis e justificariam a invocação da cláusula de divergência. Para ela, as propostas de Ciro, especialmente com relação à economia, são melhores e mais próximas com a sua linha de pensamento e com o que ela acredita melhor para o país.
Questões regionais
A “cláusula de divergência pública” deverá ser invocada por Rede e Psol para outras questões de ordem regional. Em Minas Gerais, por exemplo, a Rede deverá apoiar a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Khalil (PSD) ao governo. O Psol não seguirá tal apoio e invocará a cláusula para ter um candidato próprio ao governo, cujo nome ainda não foi definido. No Espírito Santo, a Rede lançará como candidato a governador o ex-prefeito de Vitória Audífax Barcelos. De novo, o Psol não deverá seguir o apoio, invocando a cláusula.
Com relação a Lula, ainda é uma incógnita qual deverá ser o caminho da outra estrela da Rede, Marina Silva. Segundo interlocutores, Marina está aguardando algum gesto de aproximação de Lula, o que não aconteceu. Enquanto tal gesto não acontecer, ela não deverá se antecipar quanto ao apoio ou algum outro posicionamento.
Heloísa no Rio, Marina em São Paulo
Depois de Dilma Rousseff, eleita duas vezes, Marina Silva e Heloisa Helena são as duas mulheres que mais obtiveram votos para presidente da República no país. Assim, elas estarão posicionadas como potenciais puxadoras de voto para a Rede nas eleições deste ano, no esforço do partido, federado com o Psol, de ultrapassar a cláusula de barreira. Nesse sentido, a Rede resolveu posicionar ambas em colégios eleitorais importantes, Marina Silva será candidata a deputada federal em São Paulo, e Heloisa Helena no Rio de Janeiro.
Natural da cidade de Pão de Açúcar em Alagoas, Heloisa Helena brinca que agora o destino resolveu levá-la para perto de outro “Pão de Açúcar”, no caso o famoso morro do Rio. Ela nunca vivera antes na cidade, onde chegou a morar seu pai, Luiz, que ela não chegou a conhecer (ele morreu quando ela tinha dois meses de idade).
A decisão de levar sua candidatura para o Rio de Janeiro foi tomada no ano passado. Ela, então, alterou seu domicílio eleitoral para a cidade. Está relacionada com o desempenho que ela teve quando foi candidata à Presidência pelo Psol nas eleições de 2006, quando terminou em terceiro lugar, com 6,5 milhões de votos (6,85% do total). Heloisa foi bem votada na cidade do Rio e em outras regiões do estado, como a Baixada Fluminense.
Houve também um acerto entre ela e Marina Silva para a escolha dos locais onde se candidatariam. Marina preferiu São Paulo, e Heloisa ficou, então, com o Rio.