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Gêmeos que nasceram de mãe com morte cerebral não têm sequelas

Facebook/Reprodução

Asaph e Ana Vitória permaneceram na barriga da mãe por 4 meses após sua morte

Os gêmeos Asaph e Ana Vitória, de 1 ano 8 meses, representam um marco na medicina no Brasil e no mundo. Eles foram gestados pelo maior tempo na história – 123 dias, o que corresponde a 4 meses – na barriga da mãe, mesmo depois de ter sido declarada sua morte cerebral.

Frankielen Zampoli, 21, morreu devido a um aneurisma cerebral quando estava grávida de 9 semanas. Com uma forte dor de cabeça, foi levada ao hospital pelo marido, em Contenda, a cerca de 40 km de Curitiba, no Paraná.

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Quando foi transferida para o Hospital do Rocio, na capital, já chegou com sinais de morte encefálica, segundo o médico Dalton Rivabem, chefe da UTI neurológica.

“Exames demonstraram hemorragia cerebral. Ela foi encaminhada para cirurgia, para drenar o sangue, mas, mesmo após a cirurgia, ela não respondeu. Após três dias foi fechado o diagnóstico de morte encefálica e a morte de Frankielen foi informada à família”, explica.

Mesmo com a morte cerebral da mãe, os gêmeos mantinham batimentos cardíacos. “Uma vez declarada a morte encefálica está declarado que a pessoa está morta. O protocolo é iniciar a doação de órgãos ou o desligamento dos aparelhos. Mas no caso dela não era possível nem uma coisa nem outra por causa das crianças”, conta o médico.

Segundo ele, a expectativa era que os batimentos cardíacos dos embriões continuariam por três dias e, então, seu desenvolvimento seria interrompido. No entanto, eles se mantiveram. “Começamos a acreditar que a gravidez iria para frente”, diz.

O acompanhamento do desenvolvimento da gestação foi mais intensivo se comparado com uma gravidez padrão, com dois ultrassons por semana e acompanhamento dos batimentos fetais diariamente.

“O mais desafio foi a falta de parâmetro na medicina. São 30 casos desse tipo no mundo. Até então a gravidez que havia durado mais tempo havia ocorrido em Portugal, por 109 dias, e de uma criança apenas, não de gêmeos”, explica ele, que conta que entrou em contato com o médico em Portugal, que compartilhou seu conhecimentos.

‘Para mim, era como se ela estivesse viva’
Como a morte cerebral, foi preciso manter o corpo de Frankielen funcionamento artificialmente para dar continuidade à gestação.

Entre os pontos-chave para isso estavam manter respiração artificial por meio de traqueostomia – pequena abertura na traqueia –, suporte hormonal, nutrição via sonda e monitoramento da pressão arterial 24 horas por dia.

“O cérebro comanda a produção de hormônios. Quando ele está morto, portanto, não há a produção de hormônios. Então é preciso realizar um suporte de hormônios da tireoide, antiduréticos e glicocorticoides. Ajudamos também a manter artificialmente a gravidez por meio da reposição de progesterona e estrógeno”, afirma.

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Ângela Sousa, 50, mãe de Frankielen que cria as crianças, visitou a filha em praticamente todos os 123 dias em que ela esteve ligada em aparelhos. Colocava música pelo celular e conversava com os netos, na barriga da filha, para interagir com eles e reforçar os laços, inclusive com apoio do hospital.

“Minha filha estava imóvel, eu tinha que encarar essa realidade. Mas em nenhum momento em perdi as esperanças de ela sobreviver. Para mim, era como se ela estivesse viva. Tinha esperança que ela fosse acordar a qualquer momento”, diz a mãe.

Frankielen já era mãe de Isis, então com 1 ano e 3 meses. Segundo sua mãe, ela também tinha se queixado de dor de cabeça na primeira gestação, mas cessou naturalmente. “Estávamos investigando essa dor de cabeça, que ela tinha constantemente, quando ela engravidou de novo”, afirma.

Na noite em que a filha passou mal, Ângela conta que teve um “pressentimento ruim”. “Não conseguia dormir pensando nela. Três horas depois, meu genro me ligou dizendo que a estava levando para o hospital”, relembra.

Objetivo era chegar ao 7º mês de gravidez
O objetivo da equipe médica era manter a gravidez de Frankielen pelo menos até a 28ª semana – sete meses – para que oferecesse menor risco de complicações para os bebês.

Mas na 27ª semana e 1 dia, Frankielen teve uma intercorrência grave. A pressão artificial e seus batimentos cardíacos caíram drasticamente. Foi realizada uma cesariana de emergência.

“Tive uma mistura de sentimentos. Senti alegria pelas crianças terem sobrevivido, mas tristeza porque minha filha estava partindo”, diz a mãe.

Os bebês ficaram 99 dias no hospital e, após esse período, foram liberados para irem para casa, mas ainda inspiravam cuidados. “Não podiam receber visitas por causa da imunidade muito baixa. Minha casa permanecia toda fechada”, lembra Ângela.

Quando morreu, Frankielen ainda não sabia o sexo dos bebês. O nome do menino, Asaph, foi escolhido pelo pai; o da menina, Ana Vitória, em conjunto com a avó, que cria as crianças.

“O mais impressionante é que as crianças não têm sequelas. Elas se desenvolveram normalmente, o que indica que tivemos 100% de sucesso”, comemora o médico.

“Eles estão muito bem. Eu preferi cuidar deles porque são uma parte dela. Olho para eles e é como se ela estivesse junto comigo”, diz a mãe.

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