No Brasil, uma cena se repete a cada rodada do futebol: dezenas, às vezes centenas de policiais militares posicionam-se dentro e fora dos estádios para garantir a ordem durante os jogos. O detalhe incômodo é que essa conta não é paga pelos clubes, federações ou pelas bilionárias organizações do futebol. Quem banca é o contribuinte, mesmo quando se trata de um evento privado, com ingressos caros e receitas milionárias.
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Futebol e Segurança Pública: o torcedor paga duas vezes
Em praticamente todo o mundo, a lógica é outra. Na Inglaterra, Alemanha ou Espanha, por exemplo, a segurança dentro do estádio é feita por empresas privadas contratadas pelos clubes. A polícia só atua do lado de fora, em situações específicas, ligadas à segurança pública. Isso porque se entende que, sendo o futebol um espetáculo privado e lucrativo, cabe ao organizador assumir os custos da proteção de seus clientes: os torcedores.
Aqui, seguimos o caminho inverso. A Polícia Militar, sustentada pelos impostos da população, é deslocada em massa para jogos que movimentam milhões em bilheteria, patrocínios e transmissões televisivas. Enquanto isso, bairros ficam com efetivo reduzido, e a sociedade paga a conta. Essa distorção transforma-se numa forma de corrupção velada: o Estado subsidia gratuitamente grandes clubes e federações, em detrimento da segurança de todos.
É claro que a presença policial pode ser necessária em determinadas ocasiões — afinal, brigas de torcida e confrontos de rua são problemas reais. Mas dentro do estádio, a responsabilidade
deveria ser do clube e da entidade que organiza o espetáculo. Se ainda assim a polícia for convocada, que o custo seja ressarcido ao erário. O que falta é decisão política. Uma simples lei poderia corrigir essa distorção:
- Determinar que a segurança interna seja exclusivamente privada, contratada e paga pelos organizadores.
- Estabelecer que o policiamento externo só ocorra em casos excepcionais, mediante cobrança dos custos.
- Tornar públicos os gastos com policiamento em jogos, para que a sociedade saiba quanto está sendo subtraído da segurança cotidiana em favor do futebol.
Enquanto nada muda, o torcedor paga duas vezes: no ingresso, para assistir ao espetáculo; e nos impostos, para custear a segurança de quem lucra com ele. O Brasil precisa decidir se continuará sustentando com dinheiro público o negócio privado do futebol, ou se vai alinhar-se ao padrão internacional de responsabilidade e transparência.
As informações e opiniões contidas neste artigo não refletem, necessariamente, a posição deste veículo.