Exposição a conteúdos inapropriados também se mostrou ter grande impacto na primeira infância
O uso excessivo de telas na primeira infância traz impactos negativos ao sono, ao desenvolvimento cognitivo e à saúde ocular. É o que aponta o estudo Proteção à primeira infância entre telas e mídias digitais, divulgado nesta quarta-feira (17) pelo Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI).
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Estudo aponta riscos da exposição excessiva de telas na primeira infância
A pesquisa revela que a exposição passiva ou excessiva às telas está associada a alterações nas estruturas cerebrais das crianças responsáveis pelo desenvolvimento da linguagem e da regulação emocional, bem como pela capacidade de frear impulsos.
“O maior uso de mídia digital está associado a alterações na anatomia do cérebro, como menor espessura do córtex e menor profundidade dos sulcos — ou seja, um cérebro com menos massa cinzenta e mais liso —, indicando potencial prejuízo ao processamento visual primário e a funções cognitivas de ordem superior, como atenção voluntária, codificação de memória complexa, reconhecimento de letras e cognição social”, destaca o texto do estudo.
Impactos de acordo com a faixa etária
reda
O levantamento revelou que crianças de dois anos com mais de uma hora de exposição diária às telas podem desenvolver problemas relacionados à linguagem, especialmente nos campos da compreensão e do vocabulário.
Já entre crianças de três anos expostas às telas por duas horas ou mais por dia, foi observado maior risco de problemas de comportamento, desenvolvimento e linguagem em relação àquelas que tiveram até uma hora diária de contato com telas.
O estudo também mostrou que a presença de televisão no quarto de crianças de 2 a 8 anos de idade foi associada a uma hora a mais de tempo de tela por dia, o que desencadeou problemas relacionados ao sono nesse grupo.
Qualidade do conteúdo acessado
A exposição a conteúdos inapropriados também se mostrou ter grande impacto na primeira infância. O estudo revelou que bebês de 6 a 18 meses com contato excessivo com programas de conteúdo adulto na TV apresentam mais transtornos invasivos do desenvolvimento e comportamento oposicional desafiante — padrões de desafio e hostilidade diante de regras impostas por adultos.
A pesquisa trouxe ainda evidências sobre como o conteúdo violento exibido nas telas pode afetar de diferentes formas a vida das crianças, incluindo o desenvolvimento de comportamentos hostis.
“A exposição a esses conteúdos nas diferentes mídias, como televisão, filmes, músicas e videogames, representa um alto risco de fomentar comportamentos hostis, dessensibilização à violência, pesadelos, ansiedade, depressão e medo de serem machucados, além de levar à aceitação da violência como forma apropriada de resolver conflitos e alcançar objetivos”, pontua o estudo.
Aumento do contato de bebês e crianças pequenas com a internet
O estudo também analisou o aumento do contato de bebês e crianças com a internet no Brasil, destacando números que, somados aos riscos já citados, exigem atenção redobrada de responsáveis, escolas e autoridades públicas.
Entre 2015 e 2024, o percentual de bebês de 0 a 2 anos com contato com a internet passou de 9% para 44%. No recorte de crianças de 3 a 5 anos, a proporção subiu de 26% para 71%, enquanto entre crianças de 6 a 8 anos o índice avançou de 41% para 82%.
Estudo aponta riscos da exposição excessiva de telas na primeira infância
Medidas a serem adotadas
Diante desse cenário de aumento do uso de telas na primeira infância e em fases subsequentes, as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, de acordo com as diferentes faixas etárias, são:
- 0 a 2 anos: nenhuma exposição a telas e mídias digitais;
- 2 a 5 anos: até uma hora por dia, sempre com supervisão de adultos;
- 6 a 10 anos: até duas horas por dia;
- 11 a 17 anos: até três horas por dia.
Além disso, há uma lista de cuidados gerais que devem ser adotados para mitigar os riscos relacionados ao uso excessivo de telas, como:
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- Não usar dispositivos e mídias digitais de forma isolada no quarto;
- Evitar o uso de dispositivos durante as refeições;
- Adotar a mediação parental para monitorar o tempo de uso e a exposição a conteúdos;
- Estimular atividades alternativas, como brincadeiras e a prática de esportes.
No âmbito dos órgãos públicos e das instituições privadas, o estudo faz um chamado ao apoio a legislações que regulam a publicidade voltada à infância no ambiente digital.
Ao mesmo tempo, especialistas sugerem a promoção de campanhas nacionais e a formação de profissionais voltadas à conscientização sobre os riscos do acesso precoce às telas, com foco principal na orientação das famílias.