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Esse Povo, é tudo lá de Cima!

A obra de Cândido Portinari retrata a condição dos migrantes nordestinos no século XX. Se você analisar a obra, entende diversos elementos presentes na dinâmica migratória do país nesse período; a fome, a seca, a desnutrição infantil, um elevado número de crianças na foto, retratando um número alto de filhos por família. As condições extremas de pobreza em períodos de seca favoreciam o deslocamento de populações do Nordeste para várias regiões do país.

Cândido Portinari retratou a condição social de uma família nordestina, que migrava para a região Sudeste do país, em busca de melhores condições de vida. Os fatores econômicos sempre foi um dos principais motivos dos fluxos migratórios. No Brasil, os intensos fluxos migratórios estiveram relacionados com as mudanças econômicas do país: o ciclo da cana-de-açúcar; o ciclo da borracha; o ciclo do ouro; o ciclo do café; a construção de Brasília e o desenvolvimento industrial. Esses fatores provocaram mudanças nas regiões do Brasil.

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A decadência econômica, a falta de políticas públicas de desenvolvimento e a falta de uma dinâmica produtiva na região nordeste, assim como alguns fatores ambientais, como a seca em determinados períodos, eram algumas das causas dos deslocamentos da população do Nordeste para outras regiões do país.

Além da tristeza por deixar seu território, o(a) migrante nordestino(a) lidava e ainda lida nos dias atuais com o preconceito regional, linguístico e cultural. Expressões como: “o povo de lá de cima, os paraíbas, os baianos, os cabeças chatas” são algumas das formas de preconceito exercidas contra os nordestinos nas outras regiões do país. Os estereótipos que foram criados com os nordestinos migrantes vão além das expressões acima, muitas vezes são retratados como analfabetos, miseráveis. Logo, o nordestino ou a nordestina que migra, além de sofrer com a distância de sua região, sofrem os preconceitos das regiões para as quais decidiram migrar.

As migrações (deslocamento de pessoas de um local para outro) provocam diversas alterações tanto para a cidade que recebe o imigrante quanto para a cidade que ficou para trás. Mudanças no número da população, aumento no lugar de chegada e diminuição no lugar de saída. Diminuição da mão-de-obra no lugar de saída e aumento da mão-de-obra no lugar de chegada. Logo, os fluxos migratórios provocam diversas alterações seja na vida do indivíduo, mas também na sociedade como um todo.

O perfil da população migratória do Brasil mudou muito nos últimos anos. Em função do crescimento econômico da região Nordeste e da dinamicidade produtiva que tem se estabelecido na região, houve bastante migração de retorno, ou seja, nordestinos(as) retornaram para sua região de origem. Ao mesmo tempo em que, diminui o número de deslocamento populacionais do Nordeste para outras regiões do país. (IBGE, 2011).

Esse povo, de lá de cima, como muitos preconceituosos costumam falar, precisam reconhecer que o Brasil, tem uma dimensão territorial muito grande, e que ninguém nesse país tem sangue puro. Somos um povo miscigenado, o território brasileiro é rico em diversidade cultural, linguística, social e econômica. Ninguém deve humilhar ou subestimar o outro pela sua condição regional, cultural, religiosa, orientação sexual, sua etnia, entre outras coisas.

É na diversidade que está a riqueza dos homens. Migrar é um direito humano, ninguém nesse país, nem no mundo deveria ser julgado por buscar a melhoria de sua qualidade de vida. É preciso estudarmos fatores históricos, econômicos, sociais e políticos para compreendermos os fenômenos que nos cercam, só assim poderemos ser mais humanos e compreender a realidade em que vivemos.

Forte abraço, Raqueline Santos – migrante nordestina.
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