Especialistas alertam para impacto de possĂ­veis cortes na PrevidĂȘncia

Por: Redação / AgĂȘncia Brasil  Data: 08/07/2024 Ă s 12:30

Aposentadorias movimentam consumo e economia dos municĂ­pios

Especialistas alertam para impacto de possĂ­veis cortes na PrevidĂȘncia
Especialistas alertam para impacto de possĂ­veis cortes na PrevidĂȘncia

A diminuição dos gastos pĂșblicos entrou no centro do debate polĂ­tico e econĂŽmico nos Ășltimos dias. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, jĂĄ anunciou a necessidade de cortes nas despesas obrigatĂłrias para o cumprimento da Lei do Arcabouço Fiscal, mas nĂŁo especificou as ĂĄreas que serĂŁo atingidas.

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Especialistas alertam para impacto de possĂ­veis cortes na PrevidĂȘncia

Segundo o ministro, as medidas de contingenciamento e bloqueio serão divulgadas no dia 22 de julho, mesmo dia da publicação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas, elaborado pela Receita Federal. Até lå, a discussão sobre as åreas em que devem ocorrer os cortes tende a se intensificar.

A PrevidĂȘncia Social costuma ser uma das ĂĄreas mais visadas.  No entanto, a ideia de desvincular o piso previdenciĂĄrio do salĂĄrio mĂ­nimo Ă© criticada pelo advogado e contador Álvaro SĂłlon de França, ex-secretĂĄrio executivo do MinistĂ©rio da PrevidĂȘncia e ex-presidente do Conselho Executivo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Para ele, o governo deveria reverter a desoneração de imposto em vez de pensar em diminuir valor de benefĂ­cios. “A desvinculação do salĂĄrio mĂ­nimo dos benefĂ­cios previdenciĂĄrios e assistenciais Ă© um ajuste fiscal em cima da classe mais pobre. Vamos aumentar a pobreza e a desigualdade social no Brasil.”

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França, que prepara seu terceiro livro sobre a PrevidĂȘncia Social, disse Ă  AgĂȘncia Brasil que os benefĂ­cios previdenciĂĄrios e assistenciais nĂŁo vĂŁo para a poupança, nem para aplicação no mercado financeiro. “Eles vĂŁo diretamente para o consumo e a circulação do dinheiro que provoca a melhoria da qualidade de vida.”

O especialista assinala que, na mĂ©dia, cada beneficiĂĄrio recebe R$ 1.744 e que oito de cada dez benefĂ­cios pagos pela PrevidĂȘncia Social tem o valor de um salĂĄrio mĂ­nimo. Assim, a desvinculação do mĂ­nimo teria efeito recessivo e ainda poderia diminuir a arrecadação de tributos em cima do consumo desses beneficiĂĄrios – o que geraria desequilĂ­brio fiscal.

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Outro efeito seria o impacto nas contas de 4.101 municĂ­pios – 73% das 5.568 cidades brasileiras, nas quais os recursos oriundos da PrevidĂȘncia Social tĂȘm volume maior do que os repasses do Tesouro Nacional ao Fundo de Participação dos MunicĂ­pios.

Proposta de emenda
Artigo de economistas ligados à Universidade Federal de Minas Geraus, publicado em março na revista Pesquisa e Planejamento EconÎmico, editada pelo Instituto de Pesquisa EconÎmica Aplicada (Ipea), também alerta para os possíveis efeitos sociais do corte de benefícios.

O texto analisa a versão original da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 que, à época, estabelecia o pagamento do benefício de prestação continuada (BPC) a partir dos 60 anos, mas com valor de R$ 400. O valor de um salårio mínimo (então R$ 998) somente seria pago aos 70 anos, cinco anos depois da idade, como permanece em vigor.

Os autores – DĂ©bora Cardoso, Edson Paulo Domingues, LuĂ­s Eduardo Afonso e Guilherme Cardoso – concluem que o corte de pagamentos do BPC proposto na proposta “seria bastante regressivo, impactando fortemente as famĂ­lias de menor renda.”

Quanto a pensĂ”es e aposentadorias do Regime Geral de PrevidĂȘncia Social, eventuais cortes podem ser “positivos, ou menos negativos”, a depender do destino do dinheiro poupado, se, por exemplo, se adota uma suposição de resposta mais forte do investimento. O artigo defende, no entanto, que eventuais cortes em benefĂ­cios de servidores ativos e aposentados inscritos em regimes prĂłprios de previdĂȘncia social teriam “carĂĄter progressivo” e diminuiriam a desigualdade.

DivergĂȘncia
O Projeto de Lei de Diretrizes OrçamentĂĄrias (PLDO) de 2025, em tramitação no Congresso Nacional, prevĂȘ que o Regime Geral de PrevidĂȘncia Social terĂĄ arrecadação de R$ 709,1 bilhĂ”es, e o pagamento de benefĂ­cios previdenciĂĄrios serĂĄ de R$ 980,9 bilhĂ”es. Um dĂ©ficit de R$ 271,8 bilhĂ”es, que impacta no resultado primĂĄrio das contas pĂșblicas.

De acordo com estimativa do PLDO, o salårio mínimo passarå dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.502. Os R$ 90 de diferença trarão impacto de R$ 51,2 bilhÔes, cerca de um quinto do déficit previdenciårio, conforme nota técnica das consultorias de Orçamento da Cùmara dos Deputados e do Senado Federal.

Na avaliação do pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia, unidade da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) BrĂĄulio Borges, tambĂ©m economista sĂȘnior da ĂĄrea de macroeconomia da LCA Consultores, a PrevidĂȘncia Social Ă© “a principal rubrica que deve ser ‘atacada’ para restaurar o equilĂ­brio fiscal brasileiro.”

Em artigo recente, o economista opina que “um elemento crucial” para conter a expansĂŁo do dĂ©ficit previdenciĂĄrio seria desvincular o piso previdenciĂĄrio, o BPC e outros benefĂ­cios assistenciais do salĂĄrio mĂ­nimo nacional.

“O salĂĄrio mĂ­nimo Ă© uma variĂĄvel que deve, sim, ser reajustada ao longo do tempo em termos reais, refletindo ganhos de produtividade da mĂŁo de obra, mas Ă© uma variĂĄvel que deve regular o mercado de trabalho, ou seja, a vida de quem estĂĄ participando ativamente da produção econĂŽmica. As aposentadorias e pensĂ”es deveriam ser reajustadas apenas pela inflação, mantendo o poder de compra ao longo do tempo”, afirma Borges.

No texto, o especialista ainda defende o incremento da arrecadação com a futura cobrança do futuro Imposto Seletivo sobre produtos que impactam a saĂșde e o meio ambiente, e pondera que “alguns subsĂ­dios explĂ­citos para o setor agropecuĂĄrio (como equalização de juros do Plano Safra, dentre outros) poderiam ser reduzidos, uma vez que o setor jĂĄ Ă© altamente competitivo com “as prĂłprias pernas”.

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