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Redação

Demasiadamente humano

COMPARTILHE Whatsapp Facebook Twitter Data: 07/05/2018
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Não li o livro de Friedrich Nietzsche que tem título semelhante. É uma das centenas ou milhares leituras que devam estar por vir; que sejam possíveis! Embora o título seja parecido, já faço esse esclarecimento para não soar ainda mais estranho o que digo a seguir.

Reflito sobre a condição de “ser” humano, nesta noite calma de um domingo quase normal (ou quase anormal, considerando que são quase equivalentes). Ser humano é ser imperfeito e só o ser humano precisa de uma ética que leva em consideração, racionalmente, essa imperfeição. Filosofar sobre a moral é passear em solo em que habita a questão preliminar da incompletude, da imperfeição, senão de nada interessaria tal dispêndio.

Algumas pessoas, e essas pessoas interessam demais, são demasiadamente interessantes, por serem demasiadamente humanas. Mas quem são essas pessoas? São as pessoas que são a fiel representação de um balde que transborda e esborra de imperfeições, de defeitos, de sensibilidades, de paixões, caprichos, tristezas, mas também de ações positivas, gentilezas, pois esforçadas, poços de pessimismo, mas cheias de sonhos e sutilezas.

Desconfio do fantasticamente harmônico. Pronuncio, aqui, minha descrença nos 100% românticos, nas amizades ou nos amores eternamente calmos, estáveis, santos, purificados e silenciosos. Detesto os pintados gênios, os perfeitamente organizados, as santidades travestidas de religiosidade dominical. Sim, gosto de quem tem qualidades exuberantes, mas de quem se permite imperfeito, incompleto e, às vezes, na sarjeta da Mãe Natureza: a condição humana!

Meus gostos e desgostos, a que ou a quem interessam?! A ninguém. Por isso, espremam-se as afirmativas acima e, em suma, reflita-se: estou entendendo que sou humano? Aos outros, qual a imagem que tento passar? Espero que nenhuma. Mas se é alguma e se essa é a de um deus, de um ente perfeito, sou um eterno idiota.

As pessoas mais felizes, numa análise ética quanto à ontologia da felicidade, devem ser aquelas que entendem ser o que são: humanas. E, entendendo o que são, já podem ser quem realmente são: provavelmente, um poço de aspectos detestáveis e uma porção de traços sublimes. Humanamente. Eis o demasiadamente humano…