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Comer em excesso não é a principal causa da obesidade, dizem cientistas

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Fracasso do modelo do balanço energético

A abordagem dietética e nutricional para o controle de peso é baseada no modelo centenário do balanço energético, que afirma que o ganho de peso é causado pelo consumo de mais energia do que gastamos.

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As Diretrizes Dietéticas 2020-2025 dos Estados Unidos, por exemplo, afirmam que perder peso “exige que os adultos reduzam o número de calorias que obtêm com alimentos e bebidas e aumentem a quantidade gasta com a atividade física”.

O problema é que esse pensamento – comer demais com atividade física insuficiente – vigora há mais de 100 anos e o mundo chegou ao que muitos especialistas chamam de “epidemia de obesidade”.

Por conta disso, alguns pesquisadores argumentam que um modelo alternativo, chamado modelo carboidrato-insulina, explica melhor a obesidade e o ganho de peso.

Além disso, esse modelo alternativo aponta o caminho para estratégias de controle de peso mais eficazes e duradouras.

Balanço carboidrato-insulina

Em contraste com o modelo de balanço energético, o modelo carboidrato-insulina faz uma afirmação ousada: Comer em excesso não é a principal causa da obesidade.

Em vez disso, o modelo atribui grande parte da culpa pela atual epidemia de obesidade aos padrões dietéticos modernos, caracterizados pelo consumo excessivo de alimentos com alta carga glicêmica, em particular carboidratos processados e de rápida digestão. Esses alimentos causam respostas hormonais que alteram fundamentalmente nosso metabolismo, aumentando o armazenamento de gordura, ganho de peso e obesidade, defende essa linha de argumentação.

Quando comemos carboidratos altamente processados, o corpo aumenta a secreção de insulina e suprime a secreção de glucagon. Isso, por sua vez, sinaliza às células de gordura para armazenar mais calorias, deixando menos calorias disponíveis para alimentar os músculos e outros tecidos metabolicamente ativos. O cérebro percebe que o corpo não está recebendo energia suficiente, o que, por sua vez, leva à sensação de fome. Além disso, o metabolismo pode diminuir na tentativa do corpo de conservar combustível. Assim, tendemos a permanecer com fome, mesmo que continuemos a ganhar excesso de gordura.

“Para entender a epidemia de obesidade, precisamos considerar não apenas o quanto estamos comendo, mas também como os alimentos que ingerimos afetam nossos hormônios e nosso metabolismo. Com sua afirmação de que todas as calorias são iguais para o corpo, o modelo do balanço energético perde esta peça crítica do quebra-cabeça,” defende o Dr. David Ludwig, da Escola de Medicina de Harvard (EUA).

Testar os modelos em pesquisas imparciais

A adoção do modelo de carboidrato-insulina em substituição ao modelo do balanço energético tem implicações radicais no controle do peso e no tratamento da obesidade.

Em vez de incentivar as pessoas a comer menos, uma estratégia que geralmente não funciona a longo prazo, o modelo carboidrato-insulina sugere outro caminho, que se concentra mais no que comemos, e não na quantidade.

De acordo com o Dr. Ludwig, “reduzir o consumo de carboidratos de rápida digestão que inundaram o suprimento de alimentos durante a era da dieta de baixa gordura diminui o impulso subjacente para armazenar gordura corporal. Como resultado, as pessoas podem perder peso com menos fome e menos esforço.”

Os autores reconhecem que mais pesquisas são necessárias para testar ambos os modelos de forma conclusiva e, talvez, gerar novos modelos que se ajustem melhor às evidências. Para este fim, eles clamam por um discurso construtivo e “colaborações entre cientistas com diversos pontos de vista para testar previsões em pesquisas rigorosas e imparciais”.

De fato, o modelo carboidrato-insulina não tem a unanimidade entre os cientistas, com pesquisas recentes tendo inclusive mostrado que carboidratos não fazem engordar e não ajudam a emagrecer.

Esquema do modelo carboidrato-insulina, que pretende substituir o modelo do balanço energético.
Imagem: David S Ludwig

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