O 5G finalmente chegou. A partir desta quarta-feira (6), Brasília vai receber o sinal da tecnologia e se tornar a primeira cidade do Brasil a contar com o 5G Standalone, conhecido também como 5G “puro”, que vai oferecer a mais rápida internet móvel. Entretanto, embora a novidade empolgue a maior parte das pessoas, o 5G ainda está cercado de mitos e teorias da conspiração. Neste artigo vamos tentar desmentir cinco dos seus principais mitos.
Mito 1: é o fim do 4G
Com o alvoroço causado pela chegada do 5G “puro” no Brasil, aqueles que ainda possuem celulares que não possuem suporte a nova tecnologia ficam preocupados com o futuro do 4G. Podemos dizer que o 5G é a “corrida espacial” desta geração e por isso os grandes avanços são surpreendentes. Entretanto, a chegada do 5G não vai definir o fim do 4G (pelo menos, não por enquanto).
A implementação da nova tecnologia será evolucionária, havendo a necessidade das operadoras oferecerem suporte ao 4G e até do 3G pelo menos até a próxima década. Isso vai permitir a flexibilidade, escalabilidade e segurança necessárias para fornecer suporte aos diferentes tipos de serviços que ainda utilizam essas tecnologias de gerações anteriores. Por isso, fique tranquilo, você ainda não vai precisar trocar de celular se ele não possui suporte ao 5G.
Mito 2: 5G sempre é mais rápido
Uma coisa é fato: o 5G é a grande evolução da indústria mobile. Mas muita gente acredita que o simples fato de ter um celular 5G, ele sempre será mais rápido ao acessar as páginas da internet, por exemplo. Isso não é verdade por pelo menos dois motivos.
Primeiro, a tecnologia que temos à nossa disposição não oferece ainda todo o potencial do 5G. A infraestrutura na maior parte do mundo, inclusive no Brasil, possui suporte apenas para o padrão sub-7 (que opera em frequências de até 7 GHz). O 5G de verdade está na faixa conhecida como mmWave, que são ondas bem curtinhas de aproximadamente 10 milímetros e que operam acima de 24 GHz. Por serem curtas, o alcance é muito pequeno, necessitando de mais antenas para ampliar a cobertura.
Dessa forma, mesmo que você tenha um celular 5G, a conexão acontecerá através dos modos sub-7 ou DSS (uma versão simplificada do 5G), e raramente conseguem se conectar via mmWave. Como resultado, a conexão poderá não ter toda a velocidade que você imagina.
Segundo, a velocidade também tem relação com o processador do seu celular. Hoje já existem modelos de celulares 5G com preços bem acessíveis no Brasil, alguns custando R$ 1.200. Por esse preço, os celulares geralmente oferecem um processador de baixo custo, que nem sempre é capaz de abrir as páginas da internet na maior velocidade possível. Então mesmo que você esteja conectado nas ondas mais altas do 5G, ao acessar um site mais pesado – como os portais de internet – a velocidade pode ser igual ou até mais lenta que no Wi-Fi e o velho 4G.
Mito 3: 5G causa câncer
Pode parecer o cúmulo, mas muitos boatos surgiram nos últimos anos alegando que o 5G faz muito mal à saúde, podendo causar câncer e até alterando o DNA do ser humano. No início de 2020, alguns foram além, chegando a dizer que a pandemia da covid-19 se deu depois que o vírus Sars-CoV-2 entrou em contato com as ondas de alta frequência do 5G, causando então diversas mutações. O relato é tão absurdo que nem precisaria estarmos falando disso aqui, mas seguindo o objetivo da matéria, vamos desmentir mais um mito.
Primeiro, vale entender que muitos dos equipamentos que utilizamos podem mesmo causar danos prejudiciais aos humanos devido a sua radiação, mas não é o caso do 5G. Para isso, as ondas usadas para transmitir o sinal teriam que ser ionizantes, mas não é o que acontece na indústria de telecomunicações. Isso quer dizer que essas ondas não têm energia suficiente para separar os elétrons dos átomos, causando mutações por transformá-los em átomos ou íons eletricamente desequilibrados.
Esse risco ocorre apenas quando ficamos expostos à radiação ionizante liberada pela explosão de uma bomba atômica ou quando acontece um acidente em uma usina nuclear. Neste caso, a radiação é forte o suficiente para arrancar elétrons de nossos átomos, gerando mutações genéticas que podem causar câncer e até danos permanentes aos tecidos do corpo. Mas fica tranquilo, esse não é o caso do 5G.
Concluindo, mesmo com ondas de alta frequência, o seu sinal não tem força suficiente para causar mutações genéticas.
Mito 4: 5G tem espionagem da China
Esse é um mito difícil de desmentir, até porque não existem provas de que o 5G possua mesmo algum tipo de backdoor (portas secretas utilizadas para espionagem). Esse boato surgiu em 2020 quando o governo dos Estados Unidos, liderado pelo então presidente Donald Trump, acusou a empresa chinesa Huawei de espionagem. Como resultado, a empresa foi proibida de comprar chips americanos e não pode mais vender seus aparelhos em terras norte-americanas.
Até hoje, nunca houveram provas de que a Huawei tenha mesmo algum tipo de serviço de espionagem para o governo chinês, mas a relação entre os dois países – que já não era muito boa – tornou muita coisa inviável, incluindo o 5G, que agora está envolvido em diversas teorias conspiratórias. Uma coisa é certa: os equipamentos da Huawei podem mesmo ter alguma função oculta de espionagem, mas isso não é uma caso isolado, pois acontece em todo o mundo.
Para se ter uma ideia, em 2015, o site Wikileaks publicou documentos confidenciais da NSA, a superagência de espionagem americana, mostrando que já espionou as ligações da então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e de mais 28 pessoas entre ministros e assessores. Essa espionagem acontecia até mesmo enquanto Dilma utilizava o telefone do seu avião presidencial, que funciona de forma criptografada através do satélite Inmarsat, produzido nos EUA.
Além disso, a Huawei é líder no mercado mundial de telecomunicações. Grande parte das operadoras de telefonia utilizam os equipamentos da empresa, que detém uma fatia de pelo menos 28,7% do sinal da rede 4G em todo o mundo. Se a Huawei quisesse colocar backdoors, já teria feito isso há um tempão, não só no 5G, mas isso nunca foi provado.
Mito 5: o 5G é ilimitado
Com uma velocidade que promete ser até 50 vezes mais rápida do que a gente tem atualmente, o 5G é cercado por um outro mito: o de ser ilimitado. Na teoria, de acordo com os testes iniciais em laboratório, o 5G é capaz de alcançar a velocidade máxima de 10 Gbps. Contudo, na vida real esse número fica em torno de 1 Gbps. Sim, é menor, mas ainda é muito além do que uma pessoa precisa ter no seu celular ou até mesmo na sua conexão doméstica.
Se você adquirisse um plano de telefonia que lhe oferecesse o teto máximo de 1 Gb por mês, seu uso seria praticamente ilimitado, pois dificilmente conseguiria utilizar todo o tráfego durante 30 dias. Neste caso, você poderia cancelar sua rede doméstica e usar o seu próprio celular como um roteador portátil quando estivesse dentro de casa, para compartilhar a internet com outros aparelhos.
Mas como nós bem sabemos, as operadoras costumam oferecer pacotes com um número específico de Gbs, assim como já acontece nas redes 4G. Então dificilmente teremos um plano que realmente ofereça conexão 5G de forma ilimitada. Seguindo a lógica dos planos 4G que as operadoras vendem no Brasil atualmente, você poderia comprar pacotes de 10 GB, 30 GB ou até 50 GB mensais – se precisar de mais dados, é cobrado um pacote à parte. Isso não deve mudar com a chegada do 5G, pois é a principal fonte de renda das operadoras.