Áreas de maior risco de infecção se localizaram inicialmente na região Nordeste
Os casos de chikungunya e zika apresentam tendência de queda no Brasil como um todo, mas a situação continua preocupante nas regiões de maior risco de infecção por esses dois vírus: Nordeste, Centro-Oeste e litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.
Chikungunya e zika crescem em áreas de maior risco
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Nesses locais, ambas as doenças seguem com número de casos em alta.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo (CVE) analisaram os padrões espaço-temporais de ocorrência e coocorrência das duas arboviroses em todos os municípios nacionais, bem como os fatores ambientais e socioeconômicos associados a elas.
Na última década, os números de casos das duas doenças aumentaram em todo o mundo e se expandiram geograficamente – chikungunya já foi relatada em 116 países, e zika, em 92. Ambas somam mais de 8 milhões de casos, que, por conta da subnotificação, podem chegar a 100 milhões.
No Brasil, as áreas de maior risco de infecção se localizaram inicialmente na região Nordeste. Entre 2018 e 2021, data inicial do estudo atual, o foco se deslocou para o Centro-Oeste e para os litorais de São Paulo e do Rio de Janeiro, antes de recrudescer novamente no Nordeste, de 2019 a 2021.
“Identificar essas áreas de alto risco – que são influenciadas pela alteração do ambiente causada por fatores como urbanização, desflorestação e alterações climáticas – é importante tanto para controlar os vetores quanto para direcionar corretamente as medidas de saúde pública, especialmente em um momento em que a Opas/OMS e o Ministério da Saúde (MS) vêm alertando sobre um aumento no número de casos de chikungunya e zika acima dos relatados nos últimos anos,” afirmou a professora Raquel Palasio.
Doenças tropicais negligenciadas
A investigação revelou que as regiões de alto risco apresentavam temperaturas mais elevadas e foram identificados aglomerados com alto risco de coocorrência em algumas regiões do Brasil.
“Chikungunya e zika demonstraram respectivamente tendências decrescentes de 13% e 40% no Brasil como um todo entre 2018 e 2021; entretanto, 85% e 57% dos aglomerados [áreas de maior concentração] encontrados mostraram uma tendência crescente, com provável crescimento anual entre 0,85% e 96,56% para chikungunya e entre 2,77% e 53,03% para zika.
“Observamos ainda que, desde 2015, as duas arboviroses ocorreram com maior frequência no verão e no outono no Brasil. No entanto, a chikungunya está associada a baixos níveis de precipitação, ambientes mais urbanizados e locais com maior desigualdade social. E zika a alto volume de chuvas e áreas com baixa cobertura de rede de esgoto,” disse Raquel.
De acordo com a pesquisadora, ambas as doenças são mais frequentes ainda em locais com menores taxas de vegetação nas áreas urbanas e, aparentemente, o fator socioeconômico é mais evidente para chikungunya do que para zika.
Consideradas doenças tropicais negligenciadas, chikungunya e zika são arboviroses causadas respectivamente por vírus das famílias Togaviridae e Flaviviridae e transmitidas por mosquitos do gênero Aedes.