O preenchimento dérmico é um procedimento amplamente utilizado para corrigir rugas, cicatrizes ou sulcos na pele.
A técnica, com um mercado global na casa dos bilhões de dólares, consiste na aplicação de injeções de ácido hialurônico na região a ser tratada.
E pesquisadores brasileiros querem uma parte deste mercado.
A pesquisadora Hélida Barud e seus colegas desenvolveram um processo de extração de ácido hialurônico de alta pureza a partir da casca de ovo.
Além disso, a equipe criou um componente inovador para a estabilização do ácido hialurônico, permitindo a criação de um novo gel preenchedor. Eles já fundaram uma empresa, a BioSmart Nano, para comercializar a tecnologia.
“O preenchedor é um gel e, se escorrer excessivamente, não produz a sustentação adequada. Mas, se a viscosidade for muito alta, ele não passa pela agulha e não tem aplicabilidade,” explicou Hélida.
A BioSmart Nano foi fundada em Araraquara, no interior de São Paulo, e contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Além de desenvolver a pesquisa, esse apoio permitiu conseguir parcerias no Canadá que estão viabilizando a colocação do novo produto no mercado.
Processo verde
O passo inicial foi o desenvolvimento da nova rota de extração da matéria-prima, fundamental porque não existem empresas brasileiras que produzam ácido hialurônico.
Para fazer a extração do composto a partir de uma matéria-prima como a casca de ovo é preciso descalcificá-la, mas isso precisa ser feito com solventes que não deixem resíduos no ácido hialurônico.
“Conseguimos fazer isso com solventes mais orgânicos, que não são tão agressivos e não produzem tantos resíduos que possam agredir o meio ambiente. Com esse novo método de extração, trabalhamos em uma rota ‘verde’ para obter o ácido hialurônico,” disse Hélida.
O objetivo é que o novo gel preenchedor esteja no mercado em 2024.
“Estamos percebendo que talvez seja mais simples obter a aprovação da FDA [a agência regulatória de fármacos dos Estados Unidos] para depois entrarmos com o processo de aprovação na Anvisa. A jornada ainda é longa, mas o fundamental agora é consolidar a parte científica. Nossa intenção é ter o produto no mercado em 2024, mas vamos também estudar outras possibilidades, como a transferência de tecnologia, caso se conclua que não vale a pena produzir,” afirmou Hélida.