Duas cadelas da raça Bloodhound salvaram a vida de um turista italiano que estava desaparecido há 4 dias em Arraial d’Ajuda, no Sul do estado. Os animais são cães farejadores da polícia.
O homem, identificado como Paolo Razelli, de 53 anos, foi encontrado desidratado, desorientado e bastante assustado. Ele estava desaparecido desde quarta-feira (4) e foi encontrado apenas no final da tarde do sábado (7).
Paolo foi encontrado graças ao faro apurado das cães policiais K9 Surah e K9 Brunna. A raça delas é especialista em mantrailing, que é uma técnica que consiste na busca específica do cheiro de um indivíduo, descartando outros odores.
Primeiro, a polícia conversou com familiares e amigos do italiano, para coletar dados e descobrir mais pistas. Depois, os policiais pegaram as palmilhas do sapato de Paolo, além de camisas e do celular dele para que as cadelas pudessem farejar o cheiro da vítima.
O comandante do 8º Batalhão da PM, tenente-coronel Alexandre Costa, conta que o trabalho de Surah e Brunna começou por volta das 5h30 do sábado, tendo como ponto de partida o local de trabalho, onde foi visto pela última vez.
“Elas rastrearam o cheiro dele através dos pontos onde poderia ter passado e nos levaram até um trecho da Praia de Piritinga. Lá, alguns transeuntes informaram que, realmente, viram o homem andando por ali e seguindo sentido Trancoso”, contou.
Com as novas pistas, os policiais foram até a Praia dos Coqueiros, no distrito de Trancoso quando, por volta das 11h50, um banhista informou que o italiano teria seguido por um caminho próximo ao Hotel Fasano Resort.
“Decidimos reiniciar as buscas daquele ponto com Surah, até que ela apontou o local onde o homem estava. O encontramos deitado, bastante desidratado e assustado, entre algumas folhas”, explicou Costa.
Os policiais prestaram os primeiros atendimentos, ofereceram água, mas como estava sem forças, o homem não conseguiu beber. Ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Arraial d’Ajuda, passou por cuidados médicos e já está na companhia da família. Não há detalhes de como ele se perdeu.
Conheça a raça
Um dos focinhos mais potentes do mundo canino é o do Bloodhound. A raça tem nome pouco familiar e é incomum na Bahia, mas ficou famosa mundialmente após dar vida aos personagens Pluto e Pateta, da Disney. Eles são tão bons farejadores que conseguem localizar um objeto que está a até 12 km de distância.
Os Bloodhounds têm cerca de 450 milhões de células olfativas – o dobro do que possui os pastores-alemães, raça muito utilizada por policiais em todo o mundo, principalmente na busca de pessoas desaparecidas.
“Eles têm um olfato muito mais apurado. É uma raça muito usada na busca de pessoas, porque eles conseguem cheirar um objeto que alguém usou, tipo uma caneta, e achar com facilidade. Outra característica interessante é que eles conseguem parar um serviço de faro e retomar depois, sem precisar começar do zero”, explica o veterinário Felipe Baldo.
Segundo o veterinário, os Bloodhounds conseguem localizar objetos em até 12 km de distância porque a busca é feita por um rastro, um trajeto percorrido pela pessoa procurada. E é justamente nisso que a Polícia Civil de Salvador vai apostar.
No Mantrailing, os policiais estudam nove módulos de adestramento. O treinamento dura no mínimo seis meses e, depois, o cão passa por uma prova avaliada por juízes para obter certificação.
Mas não é só o focinho que ajuda os Bloodhounds na hora da busca. As longas orelhas também têm papel fundamental no trabalho. Isso porque eles formam uma espécie de “parede” ao lado do focinho e impedem que cheiros externos atrapalhem a busca.
“A anatomia dele já é feita para a atividade da busca. Eles têm pernas longas e conseguem andar por quilômetros, têm as patas arredondadas que dão estabilidade e a própria orelha atua como um funil, que ajuda a levar o cheiro em direção ao nariz. Ela é tipo uma vassoura, porque, por onde ele anda, arrasta a orelha e elas levantam o odor em direção ao focinho. A pele deles também é bem oleosa, o que protege na hora de trabalhar na área de mata e espinhos”, explica Ana Beatriz Albernaz, fundadora e presidente do Grupamento de Busca e Resgate (GBR) Brasil, referência no treinamento de Bloodhounds no país.
Ela explica que, embora muito complexo para o ser humano, o Mantrailing costuma ser de fácil assimilação para o cão. “O treinamento vai totalmente no caminho contrário dos que já se fazem com cães. Ele é muito difícil para nós, mas fácil para eles, porque o cachorro não precisa aprender a fazer nada, na prática. Ele já fareja naturalmente. Outra curiosidade é que, como a raça tem rugas, quando abaixa a cabeça, eles não enxergam direito, o que obriga ainda mais a usar o faro para se guiar”, acrescenta.
Segundo ela, no Mantrailing o cachorro atua como se fosse um lobo durante a caça. “A gente treina o cão para usar uma ferramenta que já é natural dele, que é a caça. Os Bloodhounds são cães de caça. E como são muito brincalhões, temos que fazer isso de forma divertida e que seja uma grande brincadeira para ele”, conta ela.
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