No quarto trimestre do ano passado, a força de trabalho no setor privado, excluindo empregados no setor público e militares, atingiu um total de 87,2 milhões de pessoas. Deste grupo, aproximadamente 2,1 milhões de indivíduos estavam envolvidos em atividades laborais vinculadas às plataformas digitais.
Isso significa que essas pessoas utilizavam aplicativos de serviços ou estabeleciam conexões de vendas através do comércio eletrônico como sua principal fonte de renda.
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Dentro desse contexto, 1,5 milhão de trabalhadores se dedicavam ao uso de aplicativos de serviços, enquanto 628 mil estavam ativos nas plataformas de comércio eletrônico.
Esses números provêm do módulo Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pela primeira vez em 25 de outubro. Vale ressaltar que essas estatísticas são consideradas experimentais, estando atualmente em fase de teste e avaliação.
O setor predominante para esses trabalhadores foi o de transporte, armazenagem e correio, representando cerca de 67,3% do total. Esse grupo abrange uma ampla gama de serviços, incluindo o transporte de passageiros e serviços de entrega, que são comumente associados a aplicativos. Logo depois, vem o setor de alojamento e alimentação, com 16,7% dos trabalhadores em plataformas, especialmente devido aos estabelecimentos de alimentos que utilizam plataformas de entrega para servir seus clientes.
Interessante notar que a categoria de trabalho por conta própria foi a mais comum entre esses trabalhadores, representando 77,1% do total. Empregados com carteira assinada eram uma minoria, compreendendo apenas 5,9% dos que trabalhavam em plataformas, em comparação com 42,2% no setor privado em geral. Assim, observa-se uma predominância de trabalhadores autônomos no cenário das atividades relacionadas às plataformas digitais.
Quando se trata das atividades específicas nas plataformas, 52,2% dos trabalhadores estavam envolvidos em aplicativos de transporte de passageiros, 39,5% trabalhavam com aplicativos de entrega de alimentos ou produtos, e 13,2% se dedicavam a aplicativos de prestação de serviços gerais ou profissionais.
Plataformas
Os usuários demonstraram uma preferência pelo uso de aplicativos de transporte particular de passageiros, que representaram 47,2% das escolhas. Em segundo lugar, observamos o serviço de entrega de comida e produtos, com uma participação significativa de 39,5%. Os aplicativos de táxi também desempenharam um papel relevante, sendo utilizados por 13,9% dos usuários. Além disso, 13,2% dos usuários optaram por aplicativos voltados para prestação de serviços gerais ou profissionais.
Esse aumento no uso de plataformas digitais ao longo do tempo tem desencadeado mudanças substanciais nos processos e nas relações de trabalho. Essa evolução tem implicações tanto no mercado de trabalho do país quanto nos negócios e nos preços dos setores tradicionais da economia. É importante notar que a soma das porcentagens pode ultrapassar 100% devido a possíveis sobreposições no uso de aplicativos de táxi por parte dos trabalhadores. Esse fenômeno demonstra o impacto significativo que as plataformas digitais tiveram na forma como as pessoas trabalham e interagem no mercado de trabalho.
Regiões
A região do Sudeste liderou em termos de percentual de trabalhadores que utilizam plataformas digitais, totalizando 2,2%, o que representa 57,9% do total de trabalhadores envolvidos nesse tipo de atividade, como classificado pelo IBGE. Nos demais cantos do país, o percentual de trabalhadores que se dedicaram a atividades por meio de aplicativos de serviços variou entre 1,3% e 1,4%.
Destaca-se que a região Norte apresentou a maior proporção de pessoas envolvidas em aplicativos de transporte particular de passageiros, excluindo os de táxi, com um expressivo índice de 61,2%. Isso representa um aumento de 14 pontos percentuais em relação à média nacional. Essas estatísticas refletem as nuances regionais na adoção e utilização das plataformas digitais como uma fonte de renda, mostrando como essa tendência pode variar significativamente em todo o país.
Características
No cenário dos trabalhadores que utilizam plataformas digitais, os homens predominavam, representando uma parcela significativa de 81,3%. Esse percentual reflete uma proporção muito acima da média geral de trabalhadores ocupados, que é de 59,1%. Por outro lado, as mulheres compunham 18,7% desse contingente de trabalhadores. Esses dados evidenciam uma disparidade de gênero no que diz respeito à participação nas atividades relacionadas às plataformas digitais, com os homens assumindo uma proporção substancialmente maior nesse contexto.
Idade
No que se refere à divisão por faixa etária, quase metade (48,4%) dos trabalhadores envolvidos em atividades por meio de plataformas digitais situavam-se no grupo etário de 25 a 39 anos.
Escolaridade
Em termos de nível de instrução, os plataformizados concentravam-se nos níveis intermediários de escolaridade, com preponderância no nível médio completo ou superior incompleto (61,3%), que correspondia a 43,1% do total da população ocupada que não utilizava plataformas.
Rendimentos
No quarto trimestre de 2022, os trabalhadores envolvidos em plataformas digitais registraram um rendimento 5,4% maior em comparação com a média de renda dos trabalhadores no geral, totalizando R$ 2.645 em relação aos R$ 2.513 do rendimento médio. Além disso, esses trabalhadores também dedicavam mais horas semanais ao trabalho, com uma média de 46 horas, em comparação com as 39,6 horas dos trabalhadores convencionais.
É notável que, para aqueles com níveis de escolaridade mais baixos, o rendimento mensal médio real das pessoas que adotavam plataformas digitais para o trabalho era mais de 30% superior ao rendimento daqueles que não usavam essas ferramentas digitais. No entanto, para pessoas com nível superior completo, o rendimento dos que utilizavam plataformas (R$ 4.319) era 19,2% inferior ao rendimento dos que não recorriam a aplicativos de serviços (R$ 5.348). Esse contraste reflete a influência das plataformas digitais no rendimento dos trabalhadores, com resultados variando significativamente de acordo com o nível de escolaridade.
Cor e raça
Gustavo Geaquinto explicou que, ao analisar a distribuição por cor e raça, não foram identificadas disparidades significativas entre os trabalhadores que utilizavam plataformas digitais e aqueles que não as adotavam. Os números revelaram que os trabalhadores brancos representavam 44% dos envolvidos em plataformas, enquanto eram 43,9% entre os que não adotavam as plataformas. Da mesma forma, os trabalhadores negros compreendiam 12,2% dos plataformizados, comparados com 11,5% entre os que não usavam plataformas, e os trabalhadores pardos constituíam 42,4% dos que adotavam as plataformas, em comparação com 43,4% dos que não o faziam. Esses dados indicam que, em termos de cor e raça, a utilização de plataformas digitais estava relativamente equilibrada entre os diferentes grupos.
Previdência e informalidade
No quarto trimestre de 2022, somente 35,7% dos trabalhadores que adotaram as plataformas digitais eram contribuintes da previdência, em contraste com os ocupados no setor privado, entre os quais essa taxa era de 60,8%. Notavelmente, a proporção de trabalhadores em situação de informalidade entre os que utilizam plataformas digitais (70,1%) superou a observada entre o total de trabalhadores no setor privado (44,2%). É relevante esclarecer que essa métrica de informalidade se refere exclusivamente à atividade principal exercida pelas pessoas.
Metodologia
Os dados coletados no módulo inédito Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da PNAD Contínua referem-se ao quarto trimestre de 2022 e envolvem a população economicamente ativa com 14 anos ou mais de idade, excluindo especificamente o setor público e os militares. A pesquisa se concentrou na atividade única ou principal que as pessoas exerciam durante a semana de referência.
O IBGE salientou que, de acordo com a definição estabelecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2021, as plataformas digitais de trabalho (ou de serviços) possibilitam a realização de atividades laborais por meio de tecnologias digitais, que servem como intermediárias entre trabalhadores independentes (como trabalhadores em plataformas) e empresas contratantes e seus clientes.
Repercussão
O levantamento do IBGE, de acordo com o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e procurador do Ministério Público do Trabalho, Rodrigo Carelli, lança luz sobre o mercado de trabalho. Ele observa que a função das plataformas digitais é reduzir a remuneração dos trabalhadores, algo que é perceptível, mas agora temos uma imagem estatística que comprova essa realidade. Isso é de extrema importância e contribui para uma compreensão mais profunda dos desafios no mercado de trabalho. Ele destaca que o crescimento das plataformas teve um impacto significativo nesse setor e, portanto, é essencial ter uma análise aprofundada. Carelli elogia a abordagem e organização do levantamento do IBGE, afirmando que ele coloca cada elemento em seu devido lugar.
O professor Carelli enfatiza a importância de comparar trabalhadores que exercem a mesma função dentro e fora das plataformas para avaliar as diferenças de remuneração. Ele destaca que os entregadores e motoristas que trabalham fora das plataformas recebem salários mais elevados em comparação com aqueles que atuam nas plataformas. Ele acredita que essa comparação é fundamental e deve ser feita dentro da mesma profissão para uma análise precisa. Carelli enfatiza a importância de categorizar os dados por profissão e destaca que as plataformas são simplesmente um meio de gerenciamento de trabalho, tornando a comparação entre profissionais de uma mesma área essencial para compreender o impacto das plataformas no rendimento e na carga horária dos trabalhadores.
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