Ícone do site AlagoasWeb

Brasil registra 29 casos de fungo negro nos primeiros meses de 2021

Francis Mascarenhas/Reuters

Classificada por alguns médicos como “um pesadelo dentro da pandemia”, a mucormicose vem numa crescente exponencial na Índia, tendo atingido quase 9 mil pacientes com Covid-19 no país. Popularmente chamada de “fungo negro”, a doença mata mais de 50% dos acometidos. Aqui no Brasil, já foram notificados 29 casos somente nos primeiros cinco meses de 2021. Em todo o ano passado, de acordo com informações do Ministério da Saúde à BBC News Brasil, foram 36 registros.

Segundo o órgão federal, “não é possível relacionar, até o momento, os casos de mucormicose registrados no Brasil com a Covid-19 e as variantes do vírus”, embora a situação coincida com o agravamento da pandemia no país.

Publicidade
Especialistas não acreditam que a situação da Índia se repita no Brasil

Epidemiologistas afirmam que não há motivo de grande alarme. Segundo eles, é improvável que um quadro como o da Índia ocorra no Brasil ou em outros lugares do mundo. “Essa situação local não constitui uma ameaça à saúde pública global”, garante o infectologista Alessandro Comarú Pasqualotto, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

“A mucormicose não é algo que vai se espalhar pelo mundo”, acrescenta o também infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, professor da Universidade Federal do Paraná.

Embora pareça uma novidade, esses fungos são conhecidos e estudados desde o fim do século 19 e já circulam em boa parte do mundo, inclusive por aqui, de acordo com os médicos.

Na mucormicose, o fungo costuma entrar pelo nariz e logo adentrar os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras por onde passa. É de onde vem o “apelido” fungo negro. Imagem: Stockpexel – Shutterstock
Por que o fungo negro está fazendo tanto estrago na Índia?

Segundo Pasqualotto, a Índia apresenta uma série de características que explicam o aumento dos casos de mucormicose no país. “Os agentes causadores da doença estão no ar e tiram vantagem da umidade alta e da temperatura quente daquele local”.

Os fungos que provocam essa condição, conhecidos como Rhizopus, Rhizomucor e Mucor, podem ser observados no bolor do pão e das frutas, por exemplo. Eles estão presentes em muitos países, incluindo o Brasil. 

A explicação para que fungos tão comuns, aparentemente de pouco potencial ofensivo, causem tantos estragos em algumas pessoas, enquanto outras sequer são afetadas, está na condição de saúde de cada um.

De acordo com Telles Filho, são três situações que facilitam o desenvolvimento da mucormicose: diabetes descontrolado, doenças oncohematológicas (como a leucemia), que requerem transplante de medula óssea, ou o uso de altas doses de medicamentos corticoides, que têm ação anti-inflamatória.

“A Índia é um dos países com mais diabéticos do mundo e vive atualmente um descontrole da pandemia de Covid-19, com um alto número de pacientes internados que necessitam tomar corticoides”, explicou o médico, que é coordenador o Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Somam-se a isso as péssimas condições sanitárias dos hospitais e das enfermarias em algumas regiões do país, o que facilita o risco de contaminação por fungos.

Dessa forma, tem-se uma situação que abrange um grande número de pacientes vulneráveis, com o sistema imunológico enfraquecido pela Covid-19, muitas vezes com comorbidades (como o diabetes) e que precisam de remédios que interferem ainda mais no funcionamento das células de defesa – caso dos corticoides. Para piorar, eles são mantidos em locais sem higiene adequada. 

Como acontece a infecção pelos fungos causadores da mucormicose

Em pessoas hospitalizadas, geralmente, os fungos podem ser aspirados naturalmente por elas mesmas ou entrar pelos tubos e cateteres que ficam ligados nas veias. Outra forma de acesso é o intestino: como os fungos colonizam boa parte do sistema digestivo junto com as bactérias, eles podem aproveitar um desequilíbrio na microbiota (causada pelo uso de antibióticos, por exemplo) para se estabelecer por ali ou, até mesmo, invadir a circulação sanguínea.

No caso da mucormicose, o fungo costuma entrar pelo nariz e logo adentrar os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras por onde passa. É de onde vem o “apelido” fungo negro.

Numa situação normal, o próprio sistema imunológico pode conseguir lidar com esses avanços fúngicos e evitar agravamentos. Mas, em um momento de fragilidade causado pela pandemia, esse mecanismo natural de defesa pode não agir tão bem, permitindo que esses seres danosos causem grandes estragos.

Sair da versão mobile