Há pelo menos dez anos consecutivos, não deixo de escrever sobre o aniversário de emancipação política do município de Boca da Mata. Nos últimos anos, tomei a iniciativa de publicar reflexões a respeito, o que faço em reverência ao carinho que tenho pelas pessoas e pela história deste lugar.
De início, é importante frisar que a história de Boca da Mata não possui apenas 61 anos, pois não se confunde com o período que sucede a sua emancipação política. Antes mesmo de se tornar independente política e administrativamente, mesmo sem ser município para os fins de direito, esta terra já reunia uma identidade cultural, com tradições e saberes que não surgem, automaticamente, com o ato jurídico do seu reconhecimento como município.
Como disse no texto que elaborei em 2018, emancipar é libertar, tornar livre, independente, considerar um lugar e um povo aptos a caminharem com seus próprios meios. Assim, no dia 11 de novembro de 1958, emancipava-se Boca da Mata, tornando-se política e administrativamente independente de São Miguel dos Campos. Sua história também inclui os esforços em prol dessa emancipação e, bem antes, o surgimento das primeiras residências erguidas no início da grande mata que ocupava todo o território aqui existente antes de ser povoado.
Atualmente, é imperioso o reconhecimento de alguns desafios para o município, dos quais destaco dois: (i) a melhoria da economia local para a geração de oportunidades e a distribuição de renda; e (ii)) a democratização da cultura em seu sentido mais amplo e da educação não formal enquanto estratégia de reafirmação da sua identidade histórica e de prevenção de situações que ameaçam a paz e a segurança coletiva.
A melhoria da economia local depende da continuidade de estudos, pareceres técnicos e zelo profissional. No entanto, é importante viabilizar tais esforços de maneira conjunta com a participação popular na discussão de ideias e projetos para o desenvolvimento econômico, o que pode ocorrer com a realização de audiências públicas, reuniões itinerantes e o estreitamento de laços com universidades, autoridades e experiências municipais de sucesso. Some-se a isso a criação, manutenção e fortalecimento de órgãos de controle social de caráter permanente, posto que a participação social deve ser não eventual, de caráter contínuo.
Por outro lado, ao dizer “democratização da cultura”, não se está a se referir, apenas, à reprodução do que já fora produzido em tempos passados, mas, também, incentivar à produção de novas obras e em sentido latíssimo, abrangendo a música, a dança, o artesanato, a literatura e, até, a ciência – que precisa ser encarada como pilar para difusão da educação não formal. Afinal, a educação não formal compreende a educação propriamente dita, mas sem estar presa à previsão, à sequência e à intensidade dos conteúdos da educação básica ofertada nas escolas. A educação não formal destina-se, sobretudo, à troca de saberes, para além daqueles que possam ser fornecidos nas escolas.
Fazendo-se um esforço analítico, é possível afirmar que Boca da Mata tem avançado nos últimos anos. São muitos os esforços voltados ao aperfeiçoamento dos serviços públicos. É, igualmente, possível e necessário que essas melhorias continuem a ser construídas, com uma participação cada vez maior da população bocamatense.
O futuro de todo e qualquer município deve ser debatido no dia a dia; esse debate não deve estar reservado a uma ocasião solene. Mais do que isso, é preciso compreender que a sociedade em geral é corresponsável pelo futuro que almeja. Nesse contexto, chamo à atenção para o fato de que os desafios mencionados não cabem, tão somente, ao Poder Público, mas a todos.
Neste 11 de Novembro, diante dos 61 anos de emancipação política de Boca da Mata, que possamos buscar, cada qual, formas de contribuir com o desenvolvimento local.
Que o futuro de Boca da Mata nos traga uma tranquilidade tal como a do olhar de Ana Maria das Neves (dona Anita), atriz bocamatense; seja o nosso futuro preocupado com os mais necessitados como fora Kleber de Amorim Tenório, ex-prefeito; seja os dias que estão por vir profundamente felizes, como as manifestações culturais difundidas pela artista Bernadete Leite; seja o futuro deslumbrante como as obras de Aloisio Coimbra; seja arquitetado com um cuidado tão sublime como aquele empregado nas esculturas de madeira de Manoel da Marinheira.
E que tantos outros nomes surjam, a fazer companhia às pessoas que já tornaram nossa história maior.
Nossos parabéns ao município de Boca da Mata!