Área em torno do Rio São Francisco conta uma história de ocupação humana
No coração do sertão alagoano, uma descoberta da década de 1980 contribui para nossa compreensão sobre a ocupação ancestral do Brasil. A Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco realizou, na última sexta-feira, dia 03, uma expedição no município de Traipu, que visitou uma oficina lítica pré-colonial, num lugar que pode ter sido um terraço fluvial há mais de 6 mil anos.
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Artefatos pré-coloniais são localizados após visita a sítio arqueológico no interior de Alagoas
A equipe de Comunidades Tradicionais e Patrimônio Histórico, composta pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ministério Público Federal (MPF), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh) e Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh), reencontrou o sítio Falsidade, num lugar remoto do município de Traipu, às margens do Rio São Francisco. Lá, a equipe identificou artefatos líticos, onde deve haver muitos outros exemplares. As peças encontradas são machadinhas de pedra polida, que remontam há 8.500 a 6.000 anos.
Esses artefatos não são apenas relíquias antigas; eles são testemunhas do passado, narrando uma história de habilidade humana, adaptação e conexão com a terra. As oficinas líticas são testemunhos da antiga técnica de polimento, onde as comunidades pré-coloniais transformavam pedras em ferramentas essenciais para sua sobrevivência.
O sítio Falsidade, mapeado pela primeira vez pelo Iphan no final dos anos 80, revela-se como um tesouro arqueológico, fornecendo informações sobre a migração e ocupação na região. Durante a expedição, também foram encontrados vestígios de cerâmica do século XIX, indicando que a localidade hoje remota e de difícil acesso pode ter sido lar para famílias proeminentes no início do século XIX, quando as louças inglesas passaram a ser usadas pela elite brasileira.
“A região visitada traz importantes elementos para a compreensão da ocupação do território brasileiro”, afirma a arqueóloga do Iphan, Rute Barbosa. “Esses vestígios trazem reflexões sobre o território sertanejo demonstrando a densidade de riqueza histórica e cultural”.
A Arqueóloga destaca ainda a importância de manter os artefatos nos contextos onde são encontrados, pois só possuem uma história ou narram um modo de vida se forem mantidos em conjunto com o ambiente em que se encontram. Isso permite entender processos de fabricação, materiais utilizados e tecnologias desenvolvidas por diferentes povos. “Uma machadinha num museu é só uma machadinha, mas dentro do contexto é um elemento que fala, que conta uma história quando em conjunto com outros elementos”. Além disso, Rute Barbosa esclarece que retirar esses artefatos sem permissão é ilegal e resulta na perda de valiosas informações científicas.
Vestígios arqueológicos no entorno do Rio São Francisco
Com uma das maiores densidades de sítios arqueológicos do país, a área em torno do Rio São Francisco conta uma história de ocupação humana, destacando-se como uma das regiões mais significativas do Brasil em termos de vestígios pré-coloniais. Essas descobertas indicam o papel milenar que o “Velho Chico” exerce para comunidades indígenas, ribeirinhas, pré-coloniais. Esses sítios precisam ser protegidos, garantindo que as futuras gerações possam se conectar com suas raízes e compreender a profundidade da história brasileira.
“No contexto do clima semiárido da região, onde a escassez de umidade favorece a preservação dos achados, é vital que continuemos a proteger esses sítios arqueológicos, garantindo que eles permaneçam como testemunhos vivos de nossa história”, comentou o antropólogo do MPF, Ivan Soares Farias.