Para vários brasileiros a data é marcada pelo luto e introspecção em sinal de respeito aos amigos e familiares mortos
Para vários brasileiros o Dia de Finados, 2 de novembro, é marcado pelo luto e introspecção em sinal de respeito aos amigos e familiares mortos. A data é feriado nacional e muitos aproveitam para visitar os entes queridos em cemitérios.
O professor de ciência da religião na Universidade Federal de Juiz de Fora, Volney Berkenbrock, conta que esta é uma tradição vinda do Cristianismo. “Na Igreja Católica o dia 1º de novembro é comemorado o Dia de Todos os Santos, quando se reza por aqueles que morreram em estado de graça, com os pecados perdoados. O dia seguinte foi considerado o mais apropriado para fazer orações por todos os demais falecidos, que precisam de ajuda para serem aceitos no céu. É por isso que no dia 2 de novembro se celebra o dia de Finados.”
Há países, como no Brasil, que o dia 2 de novembro é mais importante do que 1º de novembro, Dia de Todos os Santos. Mas há outros países onde a festa de 1º de novembro é mais importante e mais festejada do que 2 de novembro, todos os mortos.
Os primeiros registros de orações pelos cristãos falecidos datam do século I, quando era costume visitar túmulos de mártires. No ano 732, o papa Gregório III autorizou os padres a realizarem missas em memória dos falecidos. No século 10, a abadia de Cluny, em Paris, estabeleceu uma data fixa para essa cerimônia. Não demorou para o 2 de novembro ser adotado em toda a Europa. A partir do século 15, o feriado se espalhou pelo mundo. Em alguns lugares, o costume foi fundido à cultura local.
No México, por exemplo, todo ano é realizado o festival do Dia dos Mortos, que une a celebração católica a antigos rituais astecas e indígenas. O ritual é marcado por festividades em cemitérios e procissão pelas cidades, as pessoas costumam vestir roupas coloridas e decorar túmulos com flores, velas, tequilas e imagens de santos. A tradição se espalhou por comunidades latinas.
Nos Estados Unidos a celebração de dia dos mortos ocorre no dia 31 de outubro no Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas. Assim como no méxico a data também é marcada por festividades, abóboras decoradas, fantasias, esqueletos e fantasmas. O termo foi originado de All Hallows’ Eve, que em português quer dizer “véspera do dia de Todos os Santos”. Segundo o professor de ciência da religião, isso demonstra a relação indireta com a celebração brasileira.
Berkenbrock avaliou a impressão de que no Brasil a data é mais celebrada nas cidades do interior do que nas capitais. Segundo ele, isto tem a ver com a proximidade da morte, uma tendência que mudou na virada do século XIX para o século XX com a urbanização e um movimento higienista.
“Em muitas cidades no interior até hoje os velórios ainda são feitos nas casas e é uma tarefa da família cuidar de todo o sepultamento. Nas cidades maiores há um distanciamento muito grande, quem cuida são as funerárias e a família não tem mais uma relação com a morte e com os mortos”, destacou.
Os costumes também são diferentes em determinados municípios do País. Em Salinópolis, no Pará, por exemplo, ao contrário de grande parte das cidades brasileiras em que a homenagem à memória dos mortos ocorre no período diurno, lá ocorrem durante a noite, mais precisamente entre às 18h e 00h. O ritual de Iluminação dos Mortos consiste em uma prática de acendimento de velas e proferimento de preces, em favor de queridos entes falecidos em momento de confraternização.
Este ano, devido a pandemia da Covid-19, a tradicional visitação aos cemitérios e os cultos devem ser diferentes, respeitando os protocolos de combate ao vírus com o uso obrigatório de máscaras e o distanciamento social. Em alguns municípios a visitação chegou a ser suspensa via Decreto Municipal, em cumprimento às medidas de segurança e prevenção.
Diante da impossibilidade de se reunir fisicamente e no tempo também em que através das queimadas o meio ambiente vem se mostrando cada vez mais agredido, o secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Joel Portella, apresentou uma alternativa aos fiéis para homenagear as vidas perdidas junto a oração, sem perder a tradição.
“Uma muda de árvore, árvore nativa, árvore da sua região, se possível uma árvore alimentícia. Plante uma árvore. Esse é um convite feito a todos nós no tempo em que a aglomeração, o estar fisicamente juntos, compartilhando o abraço, compartilhando a saudade, nada disso é possível ainda”, disse. Foram planejadas também celebrações religiosas com transmissão online para evitar a aglomeração dos fiéis.