Chamam de louco aquele ou aquela que tem comportamentos ou raciocínios diferentes das pessoas ditas “normais”, ou seja, que apresentam em suas faculdades mentais uma anormalidade diferente do que a sociedade está acostumada.
Nosso preconceito com pessoas diferentes de nós, coloca-nos em uma limitação sem tamanho, pois, quando não aceitamos o diferente não nos oportunizamos a conhecer realidades distintas da nossa.
Nise da Silveira, foi diferente, foi uma mulher que deu voz a loucura, através dos seus questionamentos em relação ao tratamento dos manicômios, revolucionou o tratamento da loucura no país. Nise da Silveira é uma psiquiatra alagoana (1905-1999), que integrou o curso de medicina na Universidade da Bahia, única mulher de sua turma, a qual tinha 157 homens.
Nise produziu 10 livros e vários artigos científicos e ganhou um filme no Brasil no ano de 2015, o qual foi estrelado por Gloria Pires e fora dirigido por Roberto Berline. Segundo Amanda Mont’Alvão Veloso, que é psicanalista, jornalista e mestranda na PUC-SP em linguística, o filme teve como base o livro “Nise – Arqueóloga dos Mares, do Jornalista Bernardo Horta, trazendo um recorte acessível e emocionante da atuação de Nise da Silveira na psiquiatria”.
Propôs tratamentos mais humanizados, retirando a aplicação de choques que objetivada “ajustar pessoas”. Sua humanização nos tratamentos psiquiátricos, veio através da arte, como um processo de reabilitação dos seus pacientes. Nise trouxe um outro olhar sobre as pessoas que precisavam de cuidados especiais por suas condições psicológicas, ela não menosprezou a potencialidade de seus pacientes e com isso contribuiu para que estes, expressassem através da arte o potencial que tinham dentro de si.
As obras de seus pacientes esquizofrênicos, rejeitados socialmente fizeram parte de duas “exposições internacionais e, em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro”, que fica no Instituto Municipal Nise da Silveira (antigo Centro Psiquiátrico Pedro II), devido a produção abundante das obras de seus pacientes.
Nise foi presa política entre 1934 a 1936, esse episódio de sua vida, fez com que Graciliano Ramos, que escreveu na prisão memórias de um cárcere, citasse Nise da Silveira em seu livro, o qual destacou a tristeza em saber que Nise estava em cárcere e que estava longe de suas relações trabalhistas.
Em sua citação Graciliano Ramos diz: “(…) Lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-se culta e boa. Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se a tomar espaço.”
Nise sofreu no trabalho por trazer métodos inovadores, e isso despertou em si a possibilidade de cada vez mais lutar por suas ideias, com isso ela implanta a terapia ocupacional no tratamento da psiquiatria. Uma mulher inovadora, batalhadora, uma resistência atemporal que inovou o mundo da psiquiatria no Brasil, dando voz a quem não tinha, humanizando as pessoas excluídas socialmente.
Nise, é fundamental para pensarmos a questão do respeito aos diferentes, aqueles que precisam de uma atenção mais humanizada. Afinal, segundo a mesma “”Não se cura além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas.”. Portanto, para Nise “a loucura é necessária para se viver”.
Estudar é tão revolucionário, que muitas vezes somos impedidos(as) de termos acesso a uma boa educação. É por isso que o @escrevenordeste quer incentivar vocês a conhecerem um pouco do legado de autoras e autores do Nordeste, para você se inspirar e ir além (Raqueline da S. Santos).
Referência: Museu do Insconsciente / Huffpost – Artigo de Veloso, Amanda Mont’Alvão.