‘Vicky’ descobriu verdade a partir de ajuda de assistentes sociais
Adotada ainda recém-nascida, uma mulher britânica conseguiu colocar atrás das grades o próprio pai biológico por ter estuprado sua mãe biológica.
Ele foi libertado, mas permanece sob investigação.
Vicky (nome fictício) alega que sua mãe biológica tinha 13 anos, abaixo da idade de consentimento, quando seu pai biológico – um amigo da família que ela afirma ter na época cerca de 30 anos – a estuprou.
No Reino Unido, a idade de consentimento é 16 anos, ou seja, a idade em que uma pessoa é considerada legalmente competente para consentir em atos sexuais.
Sendo assim, outra pessoa acima ou na idade de consentimento está autorizada a exercer atividade sexual com ela desde que haja esse consentimento.
Vicky diz acreditar que o teste de DNA permitiria à polícia identificá-lo e condená-lo formalmente por relações sexuais ilegais.
Procurada pela BBC a polícia se limitou a dizer que estava trabalhando em conjunto com o Ministério Público.
Vicky disse ao programa Victoria Derbyshire, da BBC, “ser positivo que as coisas tenham progredido”.
Registros no serviço social
Vicky foi adotada na década de 1970, aos sete meses de idade.
Aos 18 anos, ela começou a procurar sua mãe biológica e descobriu por meio de uma assistente social e de seus registros que sua concepção era resultado de um estupro.
“Isso me fez sentir raiva, arrasada pela minha mãe biológica. Por mim”, diz ela.
Vicky conseguiu se reunir com sua mãe biológica e, anos depois, decidiu agir, quando casos históricos de abuso sexual começaram a ser cobertos por agências de notícias após o escândalo de Jimmy Savile.
Um dos mais famosos apresentadores de rádio e TV do Reino Unido, Savile foi acusado de abusar sexualmente de dezenas de pessoas, entre cinco a 75 anos, durante décadas. Ele fez carreira na BBC e morreu em 2011 antes do escândalo vir à tona.
Sua mãe não queria ir à polícia, então Vicky registrou o boletim de ocorrência e pediu que o indiciamento fosse feito, ainda que sem o testemunho da vítima, por suposta relação sexual ilegal com um menor, comumente referido como “estupro estatutário”. Estupro estatutário é similar ao “estupro presumido” previsto no Código Penal brasileiro.
Esse tipo específico de indiciamento, normalmente baseado em provas, pode ser usado em casos de abuso ou estupro doméstico, quando a vítima não pode ser encontrada ou não quer se pronunciar, mas é do interesse público que a acusação seja feita formalmente, diz a orientação do Crown Prosecution Service, o Ministério Público britânico.
Vicky disse que eles poderiam usar evidências de DNA e certidões de nascimento para provar a idade de sua mãe e seu suposto estuprador.
“Queria justiça para minha mãe, queria justiça para mim”, diz ela.
A polícia, os serviços sociais, os advogados e os deputados haviam dito anteriormente a Vicky que ela “não era a suposta vítima” – portanto, nenhum indiciamento poderia ser feito, disse ela.
Ela acrescentou que ficou feliz com a recente prisão.
“Ainda estou determinada a mudar as coisas, para que outros não passem pelo que passei”, diz ela.