O julgamento de Flordelis dos Santos de Souza, da filha biológica Simone dos Santos Rodrigues, dos afetivos Marzy Teixeira dos Santos e André Luiz de Oliveira, e da neta Rayane dos Santos de Oliveira, acusados de participação na morte do pastor Anderson do Carmo, entrou no terceiro dia por volta das 9h40 desta quarta-feira (9), com cerca de 40 minutos de atraso.
O primeiro depoimento do dia é de Luana Vedovi Rangel Pimenta, mulher de Wagner Pimenta, o Misael, filho adotivo da ex-deputada. Em sua oitiva, a testemunha de acusação afirmou que a sogra exercia grande influência sobre os familiares e que conseguiu fazer com que grande parte deles a apoiassem durante as investigações do crime e do processo.
De acordo com Luana, alguns dos filhos e netos que não apoiaram Flordelis optaram por não se envolver no caso, por medo de sofrerem represálias. A testemunha relatou que deixou o próprio apartamento porque a ex-deputada tinha acesso ao local. Luana ainda afirmou que não quis mais ficar próxima a sogra, por medo de também ser influenciada.
O afastamento ocorreu, segundo ela, logo após a morte do pastor, quando passou a notar comportamentos estranhos da ex-parlamentar, como aparecer arrumada no hospital e fingir estar emocionalmente abalada, além de ter pedido que eles mentissem sobre Flávio dos Santos Rodrigues ter dirigido o carro que levou o corpo da vítima ao hospital. O homem é filho de Flordelis e foi condenado a 33 anos de prisão depois de ser acusado de atirar em Anderson do Carmo.
A testemunha destacou o envolvimento de Marzy e André no crime como exemplo do poder de Flordelis. Segundo ela, a filha afetiva fazia qualquer coisa pelo carinho da mãe e, por isso, teria aceitado envenenar o pastor. “Ela (Marzy) disse: ‘Matar o Niel (Anderson) vai resolver o problema de todo mundo. Ele é muito rigoroso, ninguém é feliz naquela casa’. Ela foi completamente inundada disso”, disse.
Ao descobrir da participação da ré no envenenamento, Luana tentou convencê-la a não continuar com o plano e acreditou que ela tinha desistido, já que no dia do crime, chegou a questionar sobre a morte, no que Marzy respondeu que não tinha envolvimento. Também de acordo com a nora da ex-deputada, ela e a acusada eram muito amigas e, à época, tentou se aproximar ainda mais, para deixá-la longe da parlamentar cassada.
Já André foi descrito como o melhor amigo de Misael durante toda a vida e como uma pessoa que ajudava a todos. Segundo Luana, ele acabou envolvido no crime porque não conseguia dizer não para Flordelis. “Se ele aprendesse a dizer não, ele não estaria sentado aqui (no banco dos réus)”, afirmou a testemunha. Em uma ocasião, o réu teria pego dinheiro da secretaria da igreja da família, a pedido da mãe, para pagar um matador de aluguel que havia sido cooptado por Rayane, neta da ex-parlamentar, e a estaria ameaçando.
Durante a oitiva, a testemunha também lembrou que Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, sempre demonstrou não gostar do pastor. Ela relatou um episódio em que Anderson tomou um pouco de sua bebida e a ré perguntou se ela não teria nojo, no que Luana negou.
“Eu tenho muito nojo dele, da boca dele”, teria dito a acusada. A nora de Flordelis também apontou que, após a morte da vítima, a mãe dele revelou que o pastor manteve um relacionamento com a filha biológica da ex-deputada durante a adolescência.
A conduta rigorosa de Anderson também incomodava Simone, segundo Luana, por conta das repreensões pelos diversos namorados e relacionamentos com homens casados que frequentavam a igreja.
“Eu era ‘X9’ e contava para o pastor e o pastor brigava com ela (…) Eu olhava como um pai querendo cuidar de uma filha. Nunca vi o pastor se dirigindo à Simone de forma sensual, eram filhos dele, mesmo”, declarou a testemunha.
Ao ser questionada pela defesa dos réus, Luana negou que membros da família já a tivessem procurado para relatar abusos sexuais por parte da vítima. “Se (as acusações) não fosse trágico, seria cômico, ele respeitava todo mundo como filhas”, completou ela.
O depoimento de Luana foi encerrado às 12h17. Na saída do Tribunal, a testemunha conversou com a imprensa e apontou que Flordelis e Marzy teriam tentado envenenar o pastor com um pó dentro do suco, já que, segundo as rés, Anderson não conseguia tomar remédio como comprimido. A próxima oitiva é de Daniel de Santos de Souza, que só descobriu durante as investigações da morte do pastor, que não era filho biológico de Flordelis e Anderson.
Outros depoimentos
A expectativa é que outras testemunhas de acusação e mais 13 de defesa ainda prestem depoimento ao longo dos próximos dias. Já foram ouvidos durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7) a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.
Nesta terça-feira (8), durante segundo dia de oitivas, prestaram depoimento o inspetor da DHNSGI, Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, e os filhos adotivos Alexsander Felipe Matos Mendes, o Luan, e Wagner Pimenta, batizado por ela como Misael.
Acusações
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.