Quem é o brasileiro suspeito de tentar matar Cristina Kirchner

Por: iG  Data: 02/09/2022 às 14:57

Fernando André Sabag Montiel, de 35 anos, foi preso na noite desta quinta-feira em Buenos Aires após ter apontado uma arma contra a cabeça da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner . De acordo com autoridades locais, Montiel nasceu no Brasil e mora no país vizinho, mas tem família em São Paulo. Ele trabalha como motorista de aplicativo e tem antecedente criminal por porte de arma não convencional.

O documento de residência de Montiel na Argentina é dos anos 1990. O pai dele, Fernando Ernesto Montiel Araya, foi alvo de um inquérito da Polícia Federal para expulsão do Brasil em 2020. Conforme documento ao qual O GLOBO teve acesso, o procedimento foi instaurado porque Araya tinha uma sentença penal condenatória no país.

Segundo o jornal La Nación, em 17 de março do ano passado Montiel foi detido por porte de arma. Na ocasião, ele foi flagrado com uma faca e alegou que a usava para defesa pessoal.

Montiel foi abordado na época por estar estacionado com um veículo sem a placa traseira. Ele alegou que a placa caiu “devido a um acidente de trânsito ocorrido dias atrás”. Quando ele se abriu a porta para pegar a documentação do carro, uma faca de 35 centímetros de comprimento caiu no chão.

Momento em que Fernando
Reprodução vídeo – 02.09.2022Momento em que Fernando “Salim” Montiel é levado preso, após o atentado contra Cristina Kirchner

Redes sociais e tatuagem nazista
Em seus perfis no Facebook e Instagram – deletados após o atentado – o brasileiro gostava de ser chamado de “Salim” e se gabava por ser crítico ferrenho do atual governo argentino e da família Kirchner. Ele também postou vídeos de suas aparições em programas de TV, seja criticando programas do governo de auxílio financeiro ou a nomeação do ministro Sergio Massa, da Economia.

“Salim” também gostava de exibir suas tatuagens nas redes sociais, algumas associadas à simbologia nórdica e uma, no cotovelo do braço direito, que reproduziria um sol negro, em referência à iconografia usada pela SS, a temida polícia do Partido Nazista de Adolf Hitler (veja a seguir duas postagens nas redes sociais de Montiel).

Nesta foto postada por Matiel é possível ver parte da tatuagem com suposta referência nazista
Reprodução – redes sociaisNesta foto postada por Matiel é possível ver parte da tatuagem com suposta referência nazista

Tentativa de assassinato
Cristina Kirchner sofreu a tentativa de assassinato em frente à sua casa, no bairro nobre da Recoleta, em Buenos Aires, onde o homem a abordou com uma pistola Bersa de calibre .32, que estava carregada com cinco balas, mas falhou na hora do disparo.

https://twitter.com/LautaroMaislin/status/1565506730661904384

Cristina estava conversando com apoiadores quando foi abordada pelo um homem armado. O sujeito foi preso imediatamente e transferido para uma delegacia de polícia, para ser interrogado, informou o ministro da Segurança, Aníbal Fernández. Ainda de acordo com ele, a arma já está em posse da polícia.

No vídeo transmitido pelo canal C5N, que deu a notícia em primeira mão, é possível ver o momento em que os agentes que protegem a chefe do Senado encurralam o homem, avisados pelos manifestantes.

Desde a semana passada, apoiadores têm feito vigília em frente à casa da vice-presidente, que enfrenta um julgamento sob a acusação de corrupção e um pedido do Ministério Público de 12 anos de prisão e inabilitação política perpétua. No sábado, milhares de pessoas também se manifestaram em praças e avenidas da Argentina.

A também senadora de 69 anos foi acusada no início da semana passada dos crimes de associação ilícita e administração fraudulenta para beneficiar um empresário em licitações públicas quando era presidente do país, de 2007 a 2015. O veredicto da Justiça deve sair até o final do ano, e, caso condenada, Cristina, que hoje tem imunidade, poderá recorrer à Corte Suprema argentina.

Ela e o presidente Alberto Fernández afirmam que a acusação da Promotoria é política.

Apoiadores
Em frente à residência de Cristina Kirchner, na Recoleta, apoiadores reagiam chocados ao atentado. Entre eles, Nicolás Kreplak, médico sanitarista, afirmou que o incidente representa um “antes e depois” no cenário político argentino. Segundo ele, ficou claro “não ser mais possível aceitar discursos de ódio”.

Outro presente na Recoleta, o dirigente sindical Roberto Baradel afirmou ser “terrível o que poderia ter acontecido” e as consequências disso para o país.

“A sociedade tem que dar um basta ao discurso de ódio e a mentiras. Tem que haver a convivência democrática em nosso país”, disse Baradel.

A ex-deputada federal Victoria Donda Pérez foi taxativa: – O discurso de ódio tem um resultado. Este é o resultado – referindo-se ao atentado contra Kirchner e evocando a necessidade de uma lei contra fake news.

Repercussão dentro e fora do país
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, fez um discurso em cadeia nacional depois da tentativa de assassinato. Ele repudiou o ataque, convocou todos os argentinos a lutarem contra o discurso de ódio “e qualquer forma de violência” no país e decretou feriado nacional nesta sexta-feira “em solidariedade” a sua vice-presidente.

“Agora a situação tem que ser analisada pelo nosso pessoal da perícia para avaliar os traços, a capacidade e disposição que essa pessoa tinha”, indicou Fernández.

Logo depois do atentado, o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) também se manifestou no Twitter, dizendo que “repudia o ataque sofrido por Cristina Kirchner” e pediu um “esclarecimento imediato”.

“Meu absoluto repúdio ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Este fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança”, afirmou.

Segundo publicou o jornal Clarín, um grupo de senadores da Frente de Todos e Juntos pela Mudança se reuniu para repudiar a tentativa de assassinato da vice-presidente.

Em sua conta oficial no Twitter, a Frente de Todos aderiu à convocação de uma marcha, nesta sexta-feira, às 12h (hora local), na Avenida de Mayo e 9 de Julio, em direção à Plaza de Mayo. A convocação foi feita pela organização juvenil La Cámpora.

Em entrevista coletiva concedida no Congresso, a chefe da Câmara dos Deputados, Cecilia Moreau, anunciou a decisão de formar uma comissão junto com o Senado para investigar a tentativa de assassinato.

No Brasil, o ex-presidente e atual candidato Luiz Inácio Lula da Silva também se solidarizou com a “companheira” Cristina Kirchner e chamou o suspeito de “fascista criminoso”.

“Toda a minha solidariedade à companheira @CFKArgentina, vítima de um fascista criminoso que não sabe respeitar divergências e a diversidade. A Cristina é uma mulher que merece o respeito de qualquer democrata no mundo. Graças a Deus ela escapou ilesa”, declarou, no Twitter.

O embaixador dos EUA, Marc Stanley, escreveu em sua conta no Twitter: “Estamos aliviados em saber que a vice-presidente @CFKArgentina está bem. violência, extremismo e ódio em todos os lugares”.

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, também enviou uma mensagem. “Minha solidariedade a @CFKArgentina, ao povo e ao governo da Argentina diante da tentativa de assassinato da vice-presidente da Nação. Nosso mais alto repúdio ao ataque. É essencial esclarecer e investigar para rejeitar a violência e fazer justiça”, escreveu.

Também o presidente do Chile, Gabriel Boric, se pronunciou sobre o caso, afirmando que “a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández, merece o repúdio e a condenação de todo o continente”. Marcelo Ebrard, ministro das Relações Exteriores de Andrés López Obrador, escreveu que o governo do México expressa “sua rejeição e condenação ao ataque”. O embaixador da União Europeia na Argentina, Amador Sánchez Rico, também postou: “A violência não tem lugar em nossas democracias”.

Da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro reproduziu o vídeo do ataque no Twitter e postou: “Enviamos nossa solidariedade à vice-presidente @CFKArgentina, diante do atentado contra sua vida. Repudiamos veementemente esta ação, que busca desestabilizar a Paz do irmão povo argentino”.