Compostos químicos que ocorrem naturalmente no café – diterpenos, cafestol e kahweol – aumentam os níveis de colesterol no sangue – mas isso não é necessariamente ruim.
Além disso, o efeito do café sobre o colesterol parece restrito ao café expresso, mas os cientistas ainda não sabem dizer qual o impacto que o café expresso pode ter e em quais quantidades.
Asne Svatun e seus colegas da Universidade do Ártico da Noruega queriam medir o efeito do café sobre a saúde mas distinguindo o expresso de outros métodos de preparo.
Eles se basearam em dados de 21.083 participantes (11.074 mulheres e 10.009 homens) que respondem a um estudo populacional de longo prazo, que começou em 1974, envolvendo moradores da cidade norueguesa de Tromso – a equipe só usou dados de adultos com 40 anos ou mais (idade média de 56 anos).
Os participantes foram questionados sobre quantas xícaras diárias de café eles bebiam (nenhuma, 1-2 xícaras; 3-5; e 6 ou mais) e que tipo de bebida eles ingeriam (filtrados; êmbolo [cafeteira]; expresso de máquinas de café; e instantâneo).
Foram coletadas amostras de sangue e anotados a altura e o peso, além de fatores potencialmente influentes, como dieta e estilo de vida, incluindo tabagismo, ingestão de álcool e atividade física, e se havia diagnóstico de diabetes tipo 2.
As mulheres bebiam em média pouco menos de 4 xícaras de café por dia, enquanto os homens bebiam em média uma a mais.
Café e colesterol
A análise dos dados mostrou que a associação entre café e colesterol sérico total variou dependendo do método de preparo da bebida, com diferenças significativas entre os sexos para todos os tipos de café.
Beber 3-5 xícaras diárias de café expresso foi significativamente associado ao aumento do colesterol sérico total, particularmente entre os homens.
Em comparação com aqueles que não bebiam café, esse padrão de consumo foi associado a 0,09 mmol/l mais alto de colesterol sérico entre as mulheres versus 0,16 mmol/l mais alto entre os homens.
Uma contagem diária de 6 ou mais xícaras de café foi associada a um aumento do colesterol bem maior, mas curiosamente invertendo o efeito entre os sexos: 0,30 mmol/l mais alto entre as mulheres versus 0,23 mmol/l mais alto entre os homens.
E ingerir 6 ou mais xícaras de café filtrado todos os dias foi associado a um aumento de 0,11 mmol/l de colesterol entre as mulheres, mas não entre os homens, quando comparados com aqueles que não bebiam café filtrado.
Enquanto o café solúvel foi associado ao aumento do colesterol em ambos os sexos, este não aumentou em paralelo com o número de xícaras consumidas, quando comparado com aqueles que não optaram pelo café em pó/grânulos.
Efeitos também para o bem
O estudo, contudo, não tira conclusões negativas sobre o café por uma série de razões.
Os próprios pesquisadores apontam que não havia tamanho de xícara padronizado: Os noruegueses tendem a beber em xícaras de café expresso maiores do que os italianos, por exemplo.
Diferentes tipos de café expresso – de máquinas de café, cápsulas ou potes de mocha – também podem conter diferentes níveis dos principais produtos químicos que ocorrem naturalmente.
E ainda não há explicações óbvias para a discrepância de gênero na resposta do colesterol ao consumo de café.
“Curiosamente, o café contém mais de mil fitoquímicos diferentes. A ingestão de cada composto também depende da variedade de espécies de café, grau de torra, tipo de método de preparo e tamanho da porção,” explica a equipe.
E, na contramão do “fazer mal”, estudos experimentais já mostraram que o cafestol e o kahweol, além de aumentar o colesterol total, têm efeitos anti-inflamatórios, protegem o fígado e diminuem os riscos de câncer e diabetes.
“Isso demonstra como o café contém compostos que podem levar a múltiplos mecanismos operando simultaneamente,” destacam os pesquisadores.