Geovana Cléa nasceu em Inhapi, no sertão de Alagoas, mas deixou o Brasil há mais de 20 anos para fazer carreira como artista plástica na Itália. Conhecida por usar milhares de cristais Swarovski em suas obras, a brasileira é destaque do Salão do Móvel de Milão 2022, marcado para o próximo mês de junho.
“Certamente, é um dos melhores momentos da minha vida”, comemora ela, sobre o estande com mais de 600 m2 no evento internacional. “Pesquiso muitos materiais que fazem parte da Terra para mostrar a simplicidade através do luxo. Mais que artista dos Swarovski, marca com a qual tenho parceria desde 2014, me sinto uma artista que tenta mostrar ao público a beleza que temos na Terra e não prestamos atenção. O mesmo fazemos na vida, nos relacionamentos, no trabalho… Automatizamos e não notamos, pela nossa pressa de vida, que temos, a cada dia, vários milagres, como uma cachoeira, uma rocha, um mineral. Belezas que nem todos param para observar e eu recriou isso nas obras”, explica.
Antes de sair do Brasil, aos 18 anos, para estudar Língua Italiana e Arte, no Instituto Europeu de Língua de Florença, foi candidata a Miss Alagoas. “Sempre adorei moda, mas o ambiente nunca foi pra mim. Escrevia muitas cartas e lia muitos livros. Eu era sensível, profunda e curiosa”, lembra ela, que contou com o apoio do pai, o agropecuarista Luiz Celso Malta Brandão, para estudar no exterior.
“Desde então, tudo que conquistei foi com meu suor. Vim embora e comecei do zero. Me fiz sozinha no ambiente artístico italiano e agradeço por ter tido meus esforços premiados. No Brasil, não posso dizer que seria a mesma coisa. Confundiam arte e artesanato, mas passaram-se vinte anos, não sei como está isso agora. Quando estava no Brasil, não vi chances para mim na minha profissão”, pontua ela, que não descarta mostrar seu trabalho no país de origem.
“Já expus na Bienal de Veneza, mas ainda não fui convidada para fazer algo assim no Brasil. Adoraria”, confidencia a artista, que chegou a dividir espaço com artistas como Renoir, Matisse, Picasso e Monet ao expor por três vezes (2011, 2012 e 2014), no Salão Nacional de Belas Artes no Louvre, em Paris. A oportunidade rendeu a Geovana, o prêmio da Juria da Sociedade Nacional de Belas Artes de Paris “Carrousel du Louvre 2014” pelas obras “Earth and World of the Minerals”.
“Tenho um trabalho de pesquisa científica e química no meu processo criativo para tentar tirar as cores, recriar os efeitos”, acrescenta.
Única brasileira na Harrods
Outra grande conquista da alagoana é ter suas criações expostas no ambiente da marca de luxo Giorgio Collection, empresa com mais de 50 anos de história, dentro da Harrods, em Londres. A exclusividade da artista com a marca, que possui 42 negócios de luxo espalhados pelo mundo, reforça o nome de Geovana Cléa dentro do universo do mobiliário de luxo internacional.
“As refinadas criações inspiradas em elementos naturais combinam perfeitamente com o luxuosos móveis italianos da Giorgio Collection”, explica Emanuele Masolo, da Giorgio Collection, sobre as peças, que chegam a ultrapassar 17 mil euros (mais de R$ 90,5 mil).
“Cresci ao redor de verdadeiros índios contemplando a natureza. Aliás, os primeiros habitantes de Inhapi foram os índios Koiunpankas. Lá, vivi muitos momentos especiais, como o pôr do sol entre os cactos do sertão. Minha obra relembra a infância feliz com pai nessa terra que carrego sempre no coração”, finaliza.