Angélica Rodrigues, de 26 anos, morreu depois de ter 85% do corpo queimado enquanto tentava cozinhar com álcool (etanol) na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo. A diarista morava sozinha em um barraco na periferia da cidade e, como estava desempregada, não tinha dinheiro para comprar o gás – que na época já custava mais de R$110.
O caso aconteceu em março e a jovem chegou a ficar 15 dias internada no hospital da cidade esperando uma vaga em uma unidade de referência no tratamento de queimados em São Paulo. Mesmo após ter sido transferida, com ajuda de um político local, para o Hospital Geral Vila Penteado, em São Paulo, Angélica não resistiu e morreu na última quarta-feira (6). O corpo dela foi enterrado no início da tarde deste domingo (10), em Praia Grande.
Silvia Regina dos Santos, 43 anos, mãe de Angélica, contou que a filha estava com problemas financeiros desde que perdeu o emprego durante a pandemia. “Ela pegava uma lata de sardinha e colocava o álcool, usando como espiriteira. Punha fogo e a panela em cima. No dia do acidente, ela pensou que a chama do potinho tinha apagado e virou o galão de álcool, mas o fogo subiu para o galão. Ela se assustou, sacudiu o galão, e o fogo acabou se espalhando no corpo todo”, contou em entrevista ao UOL. Angélica comprou o galão de álcool num posto de gasolina.
Ainda de acordo com a mãe, por conta da situação financeira, Angélica estava comendo arroz e miojo todos os dias. “Era o que o dinheiro dava para comprar. Se a Angélica tivesse condições de comprar um botijão de gás, isso não teria acontecido. Tenho 43 anos e nunca na vida enfrentamos uma situação financeira tão difícil”, lamentou.
A cozinheira só soube que a filha havia se queimado uma semana depois do acidente. “Ela teve que vender o celular para comprar comida e fiquei um tempo sem falar com ela. Soube do que tinha acontecido quando me avisaram de um post que ela conseguiu fazer no Facebook, com um celular que conseguiu emprestado no quarto onde ela estava internada”.
Silvia conta ainda que, após a transferência, ficou impedida de ver a filha. “Ela gritava muito, dava para ouvir os gritos dela da recepção do hospital, no andar térreo. Só consegui ver minha filha depois de ter conseguido enganar os funcionários e invadido o quarto. Meu coração quase parou. O sofrimento dela eu não desejo para ninguém. Como podem ter deixado ela tanto tempo sem atendimento adequado? Isso é desumano”, completou a cozinheira.