Até o final da pandemia da covid-19, doses de reforço das vacinas já usadas e doses de novos imunizantes — adaptados para as novas variantes — serão adotadas para conter o alto número de casos da covid-19 em todo o mundo. Dessa forma, a resposta sobre o número exato de reforços é quase impossível de ser adiantada. Além disso, cientistas apontam para a necessidade da vacinação anual contra o vírus, como ocorre com a gripe (influenza).
A atual onda da pandemia da covid-19 é causada pela variante Ômicron (B.1.1.529) do coronavírus SARS-CoV-2, conhecida por ser mais transmissível e por escapar melhor das defesas do organismo, o que eleva o risco de reinfecção. Para especialistas, o surgimento da cepa é um lembrete de que superar alguns desafios ainda é necessário para “encerrar” a pandemia.
Vacinação anual
De acordo com a infectologista Sharon Nachman, do Stony Brook Children’s Hospital, nos Estados Unidos, doses de reforços da vacina contra a covid-19 deverão ser aplicadas anualmente. Isso porque estudos sugerem que a eficácia diminuí de cinco a seis meses após a última aplicação. O efeito protetor contra formas graves da covid-19 parece permanecer por mais tempo.
Diante desses riscos, Nachman explica, em entrevista para o site LiveScience, que a covid-19 será menos gerenciável sem os reforços anuais, já que eventuais surtos podem sobrecarregar o sistema de saúde. Nesse sentido, os casos futuros devem ser encarados como uma gripe, como é possível observar na resposta das pessoas imunizadas contra a Ômicron.
Outro fator que reforça a importância das novas doses são as mutações que podem desequilibrar a proteção das defesas do organismo. Inclusive, a Ômicron alerta para a necessidade de as vacinas serem reformuladas. Atualmente, a farmacêutica norte-americana Pfizer e a Moderna trabalham na criação de reforços específicos contra a nova variante.
No futuro, as fórmulas contra a covid-19 podem se tornar tetravalentes, ou seja, protegerem contra quatro tipos de variantes do coronavírus. Para isso, será necessário estabelecer as principais Variantes de Preocupação (VOC) da temporada. Esse é o esquema adotado pelas vacinas da gripe.
Mundo deve ser imunizado
Para a covid-19 se tornar uma doença endêmica, a vacinação global precisa avançar. De acordo com a plataforma Our World in Data, 52% da população do mundo recebeu as duas doses da vacina ou um imunizante de dose única. Só que esses números são bastante desiguais, principalmente nos países pobres. Apenas 9,5% das pessoas em países de baixa renda receberam pelo menos uma dose.
Vale lembrar que a Ômicron foi identificada pela primeira vez no continente africano, onde apenas 10,1% da população está com o esquema vacinal completo contra a covid-19. A falta de imunizantes e a alta incidência da doença favorecem novas mutações. Estas podem levar a grandes problemas globais, como a nova variante que surgiu em um “clima” de pandemia superada.
Coronavírus deve permanecer
Vale explicar que, muito dificilmente, o coronavírus irá desaparecer. “Nós, que trabalhamos com doenças infecciosas, percebemos que, após os primeiros surtos [de uma doença], ela não desaparece completamente, porque não é isso que vírus como esse fazem”, explica o infectologista Shruti Gohil, da Universidade da Califórnia, nos EUA.
Por outro lado, a alta taxa de transmissão e de novos casos da covid-19 deve cair em algum momento. Até domingo (23), a média móvel diária de novos diagnósticos oficiais da infecção estava em 149 mil no Brasil, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Este é um recorde para o país.
No entanto, os especialistas entendem que, com as doses de reforço e vacinação global, chegará uma fase endêmica da doença. Isso significa que a covid-19 estará sempre presente, mas permanecerá mais estável e grandes surtos não deverão mais ocorrer. É o que acontece com a dengue no Brasil.
No entanto, as pessoas não-vacinadas estarão em risco contínuo, segundo a infectologista Nachman. “Estamos vendo isso agora. Pessoas que tiveram coronavírus anteriormente estão adoecendo novamente”, explica. “E estamos as vendo mais doentes do que aqueles que receberam a vacina contra a covid depois de uma doença anterior”, completa.